terça-feira, 30 de maio de 2017

Brasil perdeu relevância para os negócios da JBS

Ao concentrar seus principais investimentos fora do país durante uma década, a JBS se tornou uma das multinacionais brasileiras mais internacionalizadas.

A compra de empresas como a americana Swift por US$ 1,4 bilhão, que em 2007 permitiu a entrada no mercado de bovinos e suínos dos Estados Unidos, ou a Pilgrim's Pride, do segmento de aves, por US$ 2,8 bilhões, em 2009, são alguns dos negócios que a levaram à liderança do ranking de internacionalização de múltis brasileiras realizado pela FDC (Fundação Dom Cabral) por quatro anos.

O perfil agressivo na expansão da brasileira logo incomodou concorrentes estrangeiros, que tentaram barrar a compra da Swift, em 2007, reclamando da forma de financiamento da JBS, que tinha o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como principal financiador de suas aquisições e também sócio.

"O financiamento pelo BNDES foi uma decisão acertada porque esse é um setor em que o Brasil tem tradição e vantagem competitiva", afirma Marcos Elias, estrategista da Modena.

Para Marco Saravalle, da XP Investimentos, a internacionalização da empresa sempre foi defensável.

"Em termos de finanças, faz todo sentido diversificar a proteína, expandindo para suínos e aves, e a geografia, buscando mais mercados, pois isso reduz o risco e diminui a exposição à instabilidade da commodity", diz.

NO MAPA
À medida em que a empresa foi buscando novos mercados na Austrália e na Europa, além de intensificar sua presença nos EUA, a operação brasileira perdeu relevância. O país representa hoje apenas 16% da receita, enquanto seu maior mercado, o americano, equivale a 47%.

"Em 2007, até mais de 50% da receita vinha de fora porque ela sempre exportou. Mas, se olharmos a quantidade de empresas controladas no exterior, veremos que ela praticamente só cresceu fora na década", diz Saravalle.

A exceção foi a compra da Seara, em 2013, por R$ 5,85 bilhões, que, embora tenha sido um negócio no Brasil, contribuiu para transformar a JBS na maior processadora de frangos do mundo.

A JBS foi a primeira no ranking de internacionalização da FDC de 2010 a 2013 e só perdeu posição no ano seguinte porque adquiriu a Seara no Brasil, diluindo a proporção de receitas, funcionários e investimentos no exterior. Em 2016, retomou a trajetória de alta na lista.

CRISE DE IMAGEM
Diante da crise de imagem que a empresa vive desde que os controladores Joesley e Wesley Batista fizeram a delação na Lava Jato, a perspectiva de futuro da expansão mundial fica comprometida.
A crise já suspendeu o plano da família Batista de abrir capital em Nova York, o que permitiria um novo salto em sua expansão internacional.
Para Livia Barakat, professora da FDC, ainda é difícil estimar o impacto da crise na internacionalização futura.
"Vai depender de como ela será percebida pelo mercado externo. Pode vir a afetar a confiança", diz Barakat.
O professor Frederico Martini, do Ibmec, estima um prejuízo para a imagem não só da JBS mas de outras companhias brasileiras que queiram se expandir no exterior.

JBS MUNDO AFORA
Número de funcionários
2006 – 19 mil
2016- 235 mil

CRONOLOGIA DA JBS

2005-Adquire a produtora e exportadora de carne bovina Swift-Armour na Argentina

2007-Entra nos mercados de bovinos e suínos nos EUA e na Austrália com aquisição da Swift Company

2008-Compra a Tasman Group (Austrália), a Smithfield Beef, divisão de bovinos da Smithfield Foods (EUA), e confinamentos da Five Rivers

2009-No ano em que incorpora o frigorífico Bertin, no Brasil, ela entra no mercado americano de aves com o controle da Pilgrim's Pride

2010-Mais aquisições: Tatiara Meats, Rockdale Beef (Austrália) e Toledo (Bélgica), McElhaney (EUA)

2013-Adquire a Seara Brasil, passando a ser a maior processadora de frangos do mundo

2014-Leva as operações de aves da Tyson no Brasil e no México. Também leva o Grupo Primo SmallGoods, de processados a base de carnes (Austrália)

2015-Avança na Europa, com a compra da Moy Park, de processamento de aves e fabricação de preparados, com unidades em Reino Unido, França, Holanda e Irlanda. Leva também a unidade de suínos da Cargill (EUA)

2016-A Pilgrim's adquire a GNP, de produtos de valor agregado de frango (EUA)
Fonte: Folha de São PAULO - 28/05/2017

domingo, 28 de maio de 2017

A história do Império JBS

Começa em Anápolis a história do Império JBS. A sigla reúne as iniciais do seu fundador, José Batista Sobrinho, mineiro cuja família mudou-se nos anos 1940 para a cidade, a 55 km de Goiânia e hoje com 370 mil habitantes. Ali, seu Zé Mineiro, como ficaria conhecido, abriu em 1953 seu primeiro açougue, a Casa de Carnes Mineira.

Em Anápolis nasceu o primogênito de seus seis filhos com Flora Mendonça, José Batista Júnior, que mais tarde viria a ser conhecido como Júnior Friboi. As filhas mulheres se chamam Valére, Vanessa e Vivianne.

Atraído por isenções fiscais dadas por Juscelino Kubitschek aos pioneiros de Brasília, em 1957 Zé Mineiro passou a vender carne nos canteiros de obras da futura capital. "Não tinha condição de montar abatedouro, então eu abatia [o gado] no cerrado, no mato", contou o fundador numa entrevista em 2012. Hoje ele tem 84 anos e, como a maioria dos filhos, vive em São Paulo -ou vivia, até a delação da JBS levar os Batistas a fecharem-se em copas.

Em 1969, a família mudou-se para outra cidade goiana, Formosa, onde nasceram Wesley (1971) e Joesley (1972) e onde em 1970 montou seu primeiro frigorífico, que viria a se chamar Friboi.

Em Formosa, município de 115 mil habitantes a 75 km de Brasília que hoje acolhe a soja, ainda vivem vários Batistas –tias, primos e primas de Wesley e Joesley– e amigos da família. Lá, portanto, é possível encontrar chaves para se entender a ascensão do império JBS.

Um dos raros parentes que se dispuseram a dar entrevista foi o dentista Wilson Marques, primo em primeiro grau de Wesley e Joesley (a mãe dele é irmã de Zé Mineiro).

"O que temos para falar é que é um povo honesto e trabalhador, que mal dorme de tanto trabalhar, e que está nessa situação", afirmou Wilson, vestido de branco na recepção de seu consultório no centro de Formosa.

Wilson contou ter convivido mais com o primogênito dos Batistas que com os outros irmãos. "Não tem quem goste mais do Júnior do que eu. O cara é 'pedra 90'. É bom, direito e justo." O tio Zé Mineiro, que volta à cidade para aniversários ou enterros de parentes, "deve ser o cara mais indignado com isso tudo".

E Joesley e Wesley? "Com esses eu não convivi muito."

O jeito seco de tratar os dois primos não impede Wilson de defender a atitude deles. "Para fazer o que fizeram, devem ter sofrido pressão muito forte, só não sei de quem. Tinham de deixá-los trabalhar, ganhar dinheiro e botar o país para a frente."

É uma postura semelhante à do comerciante João Neto, 58, que conviveu com os Batistas e constrói um pequeno posto de gasolina num prédio vizinho ao primeiro escritório da Friboi em Formosa, por sua vez colado à primeira casa da família na cidade.

"Pergunte na cidade se seu Zé Mineiro já deixou de pagar algum gado, se já deu tombo em alguém. Em ninguém."

João descreve a infância dos irmãos Batista como dura. "Não tiveram regalia de criança, jogar bola, tomar banho de poço –só trabalhavam." Nenhum filho concluiu o 2º grau (hoje ensino médio.

Funcionário da Friboi por 25 anos, de 1971 a 1996, Vigilato Francisco Neto, 63, começou na empresa como office boy e chegou a gerente. Tornou-se amigo da família.

Hoje dono de um açougue de Formosa, ele enriquece a narrativa sobre a formação dos filhos de Zé Mineiro. "Com 13 anos, Júnior já comprava gado em Arinos (MG) e levava em comitiva até Posse [Goiás, onde os Batistas até hoje têm fazenda]. Com 14, já dirigia caminhão gaiola."

E distingue os talentos dos três irmãos: "Júnior é o comerciante; Wesley, o do frigorífico, da parte industrial; Joesley, o da parte econômica -é um crânio nas finanças".

Júnior presidiu a Friboi até 2005 e a tornou a maior empresa frigorífica do país. Saiu para tocar seus próprios negócios.

Em 2007, já tocada por Wesley e Joesley, a Friboi mudou o nome para JBS. Sob o comando dos dois irmãos, o grupo passou a receber os bilhões do BNDES –via empréstimos e participação acionária– que lhe permitiram comprar empresas aqui e alhures e se tornar o maior produtor de carne do mundo.

O ex-funcionário Vigilato guiou a reportagem nas ruínas do primeiro frigorífico da Friboi, vendido pelos Batistas nos anos 80 e desativado pouco antes dos 90.

"Seu Zé é fantástico como patrão, como pai, como amigo. E todos os filhos puxaram a ele", diz o ex-funcionário. E a corrupção de que participaram? "Normal. Porque no Brasil só funciona assim. Existe outra forma de você crescer no Brasil?", questiona. Fonte: Folha de São Paulo - 28/05/2017


sábado, 27 de maio de 2017

Brasil não pode se contentar apenas com agroindústria

Qual futuro queremos para o Brasil? Países industrializados contam com 2 mil cientistas por milhão de habitantes, enquanto o Brasil conta com apenas 600. A China vem fortalecendo sua posição como potência mundial em ciência e tecnologia, ultrapassando os Estados Unidos em várias áreas e assumindo a liderança na questão do clima. Coreia do Sul e Cingapura apostaram na tripla hélice "governo-indústria-universidade" e se tornaram atores e inovadores mundiais em áreas de fronteira. A Índia conquistou um lugar de destaque na indústria farmacêutica mundial e, em 2017, quebrou o recorde mundial de colocação em órbita de múltiplos satélites (107) em um único lançamento.

O Brasil não pode se contentar com uma posição de destaque no agronegócio ou como exportador de commodities. As fronteiras do conhecimento avançam a passos largos, desvendando um novo mundo em que avanços em inteligência artificial, computação quântica e ciências biomédicas determinarão ganhadores e perdedores, líderes e liderados, centros de poder e periferia.

A crise atual já fez grandes estragos em áreas fundamentais para o desenvolvimento econômico e social. E é nas crises que cumpre sair do imobilismo, preservar o conquistado e investir em caminhos viáveis. Ao longo de décadas o Brasil construiu uma invejável rede de instituições de C&T, treinou recursos humanos de excelência em áreas críticas para seu crescimento e alterou a Constituição Federal reconhecendo que o desenvolvimento tecnológico é instrumento para soberania e independência do país (EC 85 2015).
A atualização da Carta Magna abriu caminho para modernização da arquitetura jurídica brasileira. O Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, modernizou nove leis federais na tentativa de adequar o sistema vigente à premente necessidade de avanços nestas áreas. Mudanças na Lei de Inovação e de Licitações reconheceram o inexorável papel do Estado na articulação das redes e parceiros na promoção do desenvolvimento tecnológico do país.

A extinção ou esvaziamento dos institutos provocará o maior "brain drain" ["fuga de cérebros", a ida de cientistas para o exterior] da nossa história, pois serão os cientistas de excelência deste programa que migrarão para países onde CT&I são reconhecidas como estratégicas. Perderemos nossos criadores para nos tornarmos criados, mão de obra de economias mais poderosas. Os INCTs precisam ser vistos como aquelas raras sementes sobreviventes a uma seca de proporção bíblica: regadas e protegidas, poderão se multiplicar e prover o alimento indispensável para sobrevivência no mundo de amanhã. Fonte: Inovação Tecnológica - Carlos Morel (Fiocruz) e Renata Hauegen (UFRJ) -  19/05/2017

sexta-feira, 26 de maio de 2017

50% do trabalho no Brasil pode ser feito por robô, diz estudo

O Brasil é um dos países com maior potencial de automatização de mão de obra, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos na quantidade de trabalhadores que poderiam ser substituídos por máquinas.

De acordo com estudo da consultoria McKinsey, 50% dos atuais postos de trabalho no Brasil poderiam ser automatizados, ou 53,7 milhões de um total de 107,3 milhões.

O setor com maior percentual de empregos automatizáveis no Brasil é a indústria, com 69% dos postos. Em seguida, ficam hotelaria e comida (63%) e transporte e armazenamento (61%).

"Todos os países estão passando por redução de empregados na indústria e migração para os serviços", afirma Bruno Ottoni, pesquisador de economia aplicada do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia). "A fronteira dos serviços vai demorar mais a ser cruzada, já que os postos são mais qualificados", diz.

A consultoria não prevê quantos postos serão criados com tecnologia nos próximos anos, mas fala de uma reestruturação do ambiente de trabalho, semelhante à revolução verde na agricultura, na metade do século 20.


Mundo-Postos de trabalho, por país, em milhões, 
e força de trabalho que poderia ser automatizada


Para Ottoni, as previsões não necessariamente levam em conta as dificuldades de replicar em larga escala as novas tecnologias. "São barreiras culturais.  

O estudo considera que máquinas são boas em reconhecer padrões, otimizar e planejar ações, recuperar informação e executar ações motoras que não exijam muita sensibilidade ou destreza.

Cerca de 60% das profissões poderiam ter ao menos 30% de suas atividades automatizadas, de acordo com essa premissa.

Não são apenas trabalhos braçais —presidentes-executivos e banqueiros correm risco, assim como lojistas, agentes de viagens, costureiros e relojoeiros. Já legisladores e psiquiatras são as profissões com menor chance de serem automatizadas.

O relatório foi feito com base em dados de 54 países, representando 78% do mercado de trabalho mundial.

Os empregos que podem ser substituídos têm um custo de US$ 89 bilhões por ano no Brasil (R$ 275 bilhões) e US$ 14,6 trilhões no mundo (R$ 45,2 trilhões), equivalente a 1,2 bilhão de trabalhadores, metade da força de trabalho mundial.


No Brasil - Setores onde há 
potencial para automatização, em milhões
O estudo estima que, entre 2036 e 2066, deve-se chegar a metade dessas substituições. A produtividade mundial pode  consequentemente, aumentar de 0,8% a 1,4% no mesmo período.

As substituições dependem de as tecnologias se tornarem mais baratas que a mão de obra, do dinamismo do mercado e da "aceitação social", segundo o estudo.

Em 2016, o Fórum Econômico Mundial estimou que a automatização poderá causar a perda no mundo de 7,1 milhões de empregos de 2015 a 2020, mas gerar, em compensação, 2 milhões de postos.

No mesmo ano, um estudo do Citibank, com dados do Banco Mundial, concluiu que 57% dos postos poderiam ser substituídos por máquinas nos 35 países da OCDE. Fonte: Folha de São Paulo - 17/05/2017

Comentário: Não haverá emprego para todo mundo. Essa é a realidade. A primavera social, a primavera do desemprego será predominante nos próximos anos. Será a primavera negra. O jovem não terá o que perder. Será o pesadelo para a classe política e para economia. O jovem não foi educado naquele processo lento de cada ciclo existe uma espera, faz parte da vida. O jovem está sendo educado no processo da conectividade, tudo é instantâneo. O processo lento e demorado não existe nesse ciclo de conectividade, pois predomina o anarquismo da internet.