Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de junho de 2023

Semana de quatro dias é o futuro do mundo do trabalho?

 Trabalhar menos, mais tempo livre: para muitos empregados, a jornada semanal de quatro dias é um sonho. Alguns países já realizaram projetos-pilotos, outros ainda estão céticos. Quais são as vantagens e desvantagens?

Para início de conversa, semana de quatro dias não é igual a semana de quatro dias. Há que distinguir entre dois modelos: no primeiro, as 40 horas usuais são distribuídas por quatro dias, em vez de cinco, resultando em jornadas diárias de dez horas. Esse modelo foi introduzido na Bélgica, por exemplo, onde os empregados podem decidir se preferem concluir suas tarefas em quatro dias, sem que haja uma redução da carga total.

 O segundo modelo segue o princípio "100-80-100", ou seja; 100% do trabalho em 80% do tempo por 100% do salário. Uma série de países europeus já testou essa alternativa, nos últimos anos. A Islândia, por exemplo, experimentou entre 2015 e 2019 a eficácia da jornada semanal abreviada.

Também a Espanha inicia uma fase de testes em empresas de pequeno e médio porte, em que 30% do pessoal terá uma redução da carga horária de, no mínimo, 10%, mantendo-se o salário. E a França experimenta a semana de 35 horas distribuídas por quatro dias. Também no resto do mundo, esse modelo vem sendo aplicado há bastante tempo, por exemplo na Nova Zelândia, Japão e Estados Unidos.

Mas quais são as vantagens e desvantagens?

Vantagens da semana de quatro dias:

Menos estresse com produtividade igual

Os projetos-pilotos realizados até agora têm acusado efeitos francamente positivos. Num estudo britânico divulgado em 2023, os funcionários se mostraram menos estressados e apresentavam risco menor de afecções psíquicas como o burnout (esgotamento profissional).

Também a ansiedade, cansaço e distúrbios de sono diminuíram no período dos testes que envolveram 61 empresas com um total de cerca de 2.900 empregados. A maioria delas afirmou que pretendia manter a jornada de quatro dias em caráter duradouro, estando o aumento do bem-estar entre seu pessoal entre os principais motivos para essa decisão.

Menos empregados doentes

Ao mesmo tempo, os funcionários pediram menos licenças médicas. Motivo para tal seria o fato de disporem de tempo suficiente para se recuperar, e a redução da pressão, avalia a psicóloga Hannah Schade, do Instituto Leibniz Pesquisa sobre o Trabalho, da Universidade Técnica de Dortmund.

Segundo ela, esse também é um ponto importante para esclarecer como se poderia financiar a semana de quatro dias. Pois cabe levar em consideração os altos custos de ter grande parte do pessoal em licença médica, ou sofrendo distúrbios psíquicos dentro da empresa.

Mais igualdade de gênero, menos escassez de mão de obra

A jornada semanal de quatro dias também pode contribuir significativamente para mais equiparação de gênero no local de trabalho. Como frisa a psicóloga laboral Schade, o estudo britânico indicou que, nesse regime, os homens se ocupam mais das tarefas domésticas, como o cuidado dos filhos ou de familiares necessitados.

Bernd Fitzenberger, diretor do Instituto de Pesquisa de Mercado de Trabalho e Atividade Profissional, vê ainda uma vantagem decisiva da jornada reduzida para o combate à escassez de mão de obra: "Ela torna os empregos mais atraentes, potencializa o número de candidatas e candidatos em campos nos quais as empresas estão procurando pessoal ansiosamente."

Com a jornada reduzida, as famílias poderiam coordenar melhor profissão e cuidados infantis, e para as mulheres – que nos casais alemães continuam sendo quem tem que abrir mão da carreira – seria mais fácil retornar ao expediente integral.

Vantagens para o clima?

É difícil aferir se a redução da carga horária tem efeito concreto sobre o clima. O think-tank Konzeptwerk Neue Ökonomie afirma em seu website, por exemplo, que com uma semana de quatro dias "também o consumo de energia e recursos dos ramos e rotas para o trabalho poderá ser diminuído". Como a pegada climática de cada funcionário se reduz, contudo, depende do estilo de vida individual.

Empresas mais atraentes para candidatas/os a emprego

Embora a jornada de quatro dias seja acima de tudo uma reivindicação dos empregados, também os patrões poderiam lucrar com sua implementação. "Toda empresa ganha uma dianteira de competitividade se oferece a semana de quatro dias", afirma Schade.

Entretanto não é o modelo que mantém as 40 horas que torna as firmas mais atraentes, mas sim uma redução efetiva da carga horária, e, segundo a psicóloga, "para isso os candidatos também estão dispostos a abrir mão de outras coisas".

Jovens utilizam computadores e celulares em local de trabalho compartilhadoJovens utilizam computadores e celulares em local de trabalho compartilhado

Desvantagens da semana de quatro dias:

Pelo contrário: mais estresse?

Uma desvantagem do modelo poderia ser a condensação da carga de trabalho, aponta o economista Bernd Fitzenberger. Ter que realizar mais em menos tempo também pode provocar mais estresse. Na Bélgica, a carga de 40 horas é mantida, embora distribuída por quatro dias. Os empregados têm a alternativa de diminuir essa carga, porém aí também o salário sofre cortes proporcionais.

Dificuldade de medir produtividade objetivamente

Holger Schäfer, do Instituto da Economia Alemã (IW), em Colônia, está entre os economistas que veem a semana de quatro dias com ceticismo: para ele, não está claro como se pode sequer medir a produtividade, não havendo modo de "verificar acima de qualquer dúvida como ela se desenvolveu nas empresas".

Seu colega Fitzenberger aponta a possibilidade de que o novo modelo até mesmo acarrete aumento dos custos empresariais, "lá onde a jornada reduzida ou a concentração da carga de trabalho em quatro dias não pode ser compensada por incrementos de produtividade".

Ameaça à competitividade nacional

O chefe da bancada parlamentar do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Dürr, se preocupa que a introdução de jornadas reduzidas possa comprometer a competitividade da indústria da Alemanha.

"Diante da gritante escassez de mão de obra, a proposta de uma semana de quatro dias é francamente incompreensível", declarou a jornais do Funke Mediengruppe. Para o líder da sigla pró-empresariado, não há dúvida: em vez fortalecer a economia nacional, esse novo regime de trabalho a prejudicaria.

Por sua vez, Fitzenberger acha possível as firmas compensarem essa eventualidade configurando as rotinas de trabalho mais produtivas, através de inovações tecnológicas.

Semana reduzida não é praticável em todos os setores

Para o especialista em mercado de trabalho, contudo, o problema maior é até que ponto o jornada de quatro dias pode ser implementada nos diferentes setores da economia: "Vai ser um desafio para campos em que os serviços precisam ser prestados aqui e agora, em horários fixos, a clientes, a indivíduos que dependem de cuidados."

Nos setores de cuidados pessoais, segurança ou transportes, é mais difícil do que em outros adotar a jornada de quatro dias: "Se aplicássemos uma norma rígida, afetando igualmente todos os ramos, isso poderia comprometer a competitividade", considera Fitzenberger.

Novas perspectivas para o mundo do trabalho

 Na visão da psicóloga Schade, o tema precisa ser considerado num período mais longo. Por um lado, porque menos licenças médicas têm efeito positivo de longo prazo sobre a economia; por outro, tanto os indivíduos quanto as empresas precisam primeiro se adaptar à nova forma de trabalhar.

"Mudança sempre significa risco, também", lembra, e isso desencadeia medo. No entanto os números já falam: numa pesquisa realizada na Alemanha, mais de três quartos se pronunciaram pela adoção da jornada semanal em suas empresas, sobretudo os consultados abaixo dos 40 anos de idade. Fonte: Deutsche Welle - 08/05/2023 

terça-feira, 28 de março de 2023

O caso de trabalho análogo à escravidão em vinícolas no RS

Operação encontrou mais de 200 homens contratados para trabalhar na colheita de uva em Bento Gonçalves, no RS, em condições degradantes. Veja o que se sabe.

Mais de 200 homens contratados para trabalhar na colheita de uva foram resgatados de um alojamento em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, onde eram submetidos a "condições degradantes" e trabalho análogo à escravidão.

Os órgãos que participaram da operação realizada em 22 de fevereiro – Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT) e as polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF) – afirmaram que os trabalhadores teriam sido enganados após receberem promessa de emprego temporário, salário de 4 mil reais e, ainda, alojamento e refeições pagas.

A operação foi realizada após três trabalhadores procurarem a PRF, em Caxias do Sul, afirmando que haviam fugido de um alojamento – no Bairro Borgo, a cerca de 15 quilômetros dos vinhedos de Bento Gonçalves – em que eram mantidos contra a vontade. Os trabalhadores resgatados chegaram a ser alojados no ginásio Darcy Pozza, em Bento Gonçalves, até que pudessem voltar para casa.

Os 207 homens foram recrutados na Bahia pela empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton – algumas das mais importantes produtoras da região (veja as notas das empresas no final do texto). As produtoras rurais dizem que não tinham conhecimento sobre a situação relatada pelos trabalhadores.

AGRESSÕES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS

Nos depoimentos, os trabalhadores relataram episódios de violência, tais como surras com cabo de vassoura, mordidas, choques elétricos e ataques com spray de pimenta, além de más condições de trabalho e de alojamento. Eles denunciaram ainda práticas como vales, multas e descontos nos salários, o que levou o MTE e o MPT a considerarem a situação como um regime de trabalho análogo à escravidão.

Os homens trabalhavam na colheita de uva de domingo a sexta, das 5h às 20h e sem pausas – apesar de serem forçados a assinar no ponto que folgavam também aos domingos. Eles começaram a trabalhar no início de fevereiro, porém, surpreendidos com as péssimas condições de trabalho, tentaram ir embora do Rio Grande do Sul, mas chegaram a ser ameaçados e espancados.

Um dos trabalhadores afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o combinado era receber R$ 4 mil após 45 dias. Porém, eram abatidos do montante descontos que não foram previamente combinados. Assim, ele disse que percebeu que estava sendo explorado.

Outro trabalhador relatou que, ao chegar no Rio Grande do Sul, soube que perderia a passagem de volta caso faltasse a um dia de trabalho. Além disso, o alojamento – que deveria estar incluso – seria descontado em folha no final do contrato. Por isso, afirma ele, a situação fazia com que os homens continuassem trabalhando mesmo se estivessem doentes.

Os trabalhadores disseram que recebiam comida estragada dos representantes da Fênix, que só podiam comprar produtos em um mercadinho perto do alojamento, com preços superfaturados, e que o valor gasto era descontado do salário. Por isso, os trabalhadores acabavam o mês devendo dinheiro para a empresa, pois o consumo superava o valor do salário.

Eles contaram ainda que não podiam sair do local e que, se quisessem, teriam que pagar a suposta "dívida". Além disso, os empregadores ameaçavam seus familiares.

VINÍCOLAS PODEM SER RESPONSABILIZADAS?

As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton contrataram a Fênix, que oferecia mão de obra. Porém, as produtoras rurais – que afirmaram desconhecer as irregularidades e que sempre atuaram dentro da lei – podem ser responsabilizadas, segundo Vanius Corte, gerente regional do MTE em Caxias do Sul, em entrevista ao portal G1.

"As pessoas que tomaram esse serviço, as pessoas que foram beneficiadas por esse serviço, também podem ser responsabilizadas. Chamamos isso de responsabilidade subsidiária. Primeiro, o empregador tem a responsabilidade", afirmou Corte.

"Se ele não pagar, as pessoas que trabalharam em determinada vinícola, que prestaram o serviço lá, podem cobrar, e nós vamos chegar nesse ponto, dessa vinícola que se beneficiou desse trabalho", acrescentou.

Para o gerente regional do MTE em Caxias do Sul, não basta as empresas contratarem alguém. "Tu tens que saber quem tu estás contratando, tu tens que ter essa responsabilidade de examinar se ele oferece as condições [adequadas] e os direitos [legais]", afirmou.

RESPONSÁVEL PELA EMPRESA FOI PRESO, MAS PAGOU FIANÇA

De acordo com o portal G1, a responsável pelo alojamento era a empresa Fênix, administrada por Pedro Augusto de Oliveira Santana, de 45 anos. Ele chegou a ser preso, mas pagou fiança no valor de R$ 40 mil e responderá pelo crime em liberdade.

Por meio de nota, o advogado Rafael Dorneles da Silva afirmou que "a empregadora Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial".

Segundo o MTE, a Fênix foi criada em janeiro de 2019 e está em nome de uma mulher – e Santana trabalhava como administrador. O MTE afirmou que Santana atua em Bento Gonçalves há cerca de 10 anos e sempre contratava pessoas, inclusive de outros estados, para o trabalho nas colheitas de frutas, em aviários e de carga e descarga. 

Santana tinha uma empresa que foi criada em 2012 para prestar serviços – a Oliveira & Santana –, que chegou a ter 206 funcionários, porém, fechou suas portas em 2019. Entre 2015 e 2023, a firma foi autuada dez vezes por irregularidades trabalhistas. Inclusive, os alojamentos onde os trabalhadores ficavam também foram interditados. Apesar disso, nenhuma situação análoga à escravidão foi flagrada. A Fênix não havia sido fiscalizada pelo MPT até a realização da operação de resgate.

TRABALHADORES JÁ RETORNARAM PARA SUAS CASAS

Dos 207 trabalhadores resgatados, 194 partiram de ônibus do Rio Grande do Sul para a Bahia no início do sábado (25/02). Outros quatro trabalhadores preferiram ficar em Bento Gonçalves; e nove gaúchos retornarão de ônibus às suas cidades nos próximos dias. Os custos de transporte já foram repassados à Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA.

Segundo a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, o governo da Bahia afirmou que esperará pelos trabalhadores com equipes de assistência social em cada um dos municípios de chegada. Os nomes das cidades, segundo o portal G1, não são divulgados por questões de segurança.

COMO FICARÃO OS DIREITOS DOS TRABALHADORES?

A empresa fechou um acordo – mediado pelo MPT – com os trabalhadores que foram encontrados em condições análogas à escravidão. Cada um deles recebeu R$ 500 para fazer a viagem para suas casas. De acordo com o MPT, foi estabelecido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a empresa deverá comprovar os pagamentos sob pena de ajuizamento de ação civil pública por danos morais coletivos, além de multa correspondente a 30% do valor devido.

Estima-se até agora que o cálculo total das verbas rescisórias ultrapasse R$ 1 milhão. De acordo com o TAC, os valores desembolsados pela empresa contratante não quitam os contratos de trabalho, além de não significarem renúncia de direitos individuais trabalhistas, que poderão ser reivindicados pelos trabalhadores.

CRIAÇÃO DE FORÇA-TAREFA DE FISCALIZAÇÃO

Após uma reunião nesta terça-feira (28/02), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou a criação de uma força-tarefa para fiscalizar a contratação de pessoas e combater situações de trabalho análogo à escravidão na Serra Gaúcha. Ele não anunciou um prazo para o início da ação, mas defendeu também que ocorram responsabilizações.

"Entre as ações determinadas está uma força-tarefa do governo do estado em fiscalização com apoio e relacionamento com a Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo [...] para amplificar a capacidade de fiscalização, especialmente nessas atividades que demandam a expansão de mão de obra tão rápida como é o processo das colheitas", frisou.

O governador afirmou que a Serra Gaúcha tem cerca de 20 mil propriedades rurais de pequeno porte, e que uma população flutuante de mais de 100 mil pessoas trabalha nas colheitas. "Queremos desenvolver forças-tarefas de fiscalização para garantir que nessas atividades tenhamos especial enfoque para garantir que as condições de trabalho dessas pessoas sejam adequadas, dignas e correspondentes à legislação", concluiu.

O QUE DIZEM AS VINÍCOLAS E O EMPRESÁRIO?

 AURORA:

"Em respeito aos seus associados, colaboradores, clientes, imprensa e parceiros, a Vinícola Aurora vem a público para reforçar que não compactua com qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão e se solidariza com os trabalhadores contratados pela terceirizada Oliveira & Santana.

As vítimas são funcionários da Oliveira & Santana, empresa que prestava serviços às vinícolas, produtores rurais e frigoríficos da região.

A Aurora já se colocou à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e está prestando apoio às vítimas. A companhia também está trabalhando em conjunto com o Ministério Público Federal e com o Ministério do Trabalho para equalizar a situação em busca de reparo aos trabalhadores da Oliveira & Santana.

A vinícola está tomando as medidas cabíveis e reitera seu compromisso com todos os direitos humanos e trabalhistas, assim como sempre fez em seus 92 anos. Ratifica ainda que permanece cumprindo com suas obrigações legais e com a sua responsabilidade também perante ao valor rescisório a cada trabalhador contratado pela Oliveira & Santana.

A Aurora conta com 540 funcionários, todos devidamente registrados e obedecendo a legislação trabalhista. Porém, na safra da uva, dentro de um período de cerca de 60 dias, entre janeiro e março, a empresa depende de um grande número de trabalhadores, se fazendo necessária a contração temporária para o setor de carga e descarga da fruta, devido à escassez de mão de obra na região.

Quanto à empresa terceirizada, cabe esclarecer que a Aurora pagava à Oliveira & Santana um valor acima de R$ 6,5 mil/mês por trabalhador, acrescidos de eventuais horas extras prestadas. A terceirizada era a responsável pelo pagamento e pelos devidos descontos tributários instituídos em lei. A Aurora também exigia os contratos de trabalhos da equipe que era alocada na empresa.

Todo e qualquer prestador de serviço da Aurora, da mesma forma que os funcionários, recebe alimentação de qualidade durante o turno de trabalho, como café da manhã, almoço e janta, sem distinções.

A vinícola também oferecia condições dignas de trabalho no horário de expediente e os gestores responsáveis desconheciam a moradia desumana em que os safristas eram acomodados pela Oliveira & Santana após o período de trabalho.

Por fim, ratificando seu compromisso social, a Aurora se compromete em reforçar sua política de contratações e revisar os procedimentos quanto à terceiros para que casos isolados como este nunca mais voltem a acontecer."

SALTON:

"A Família Salton repudia veementemente e não compactua com nenhum tipo de trabalho sob condições precárias, análogas à escravidão. A empresa e todos os seus representantes estão solidários a todos os trabalhadores e suas famílias, que foram tratados de forma desumana e cruel por um prestador de serviço contratado.

Reforçamos que todas as informações foram verificadas antes da contratação do fornecedor. Entretanto, trata-se de incidente isolado e a Família Salton já está tomando medidas cabíveis frente ao tema, além de ser colocar à disposição dos órgãos competentes para colaborar com o processo.

A empresa salienta que já está trabalhando para intensificar os controles de contratação, prevendo medidas mais austeras em todo e qualquer contrato de serviços terceirizados. Prevê ainda a associação e parcerias com órgãos e entidades do setor para melhorar a fiscalização de práticas trabalhistas.

Com um legado de 112 anos, a Família Salton é referência em sustentabilidade e signatária do Pacto Global da ONU e realiza projetos que refletem diretamente a responsabilidade social da empresa e seu compromisso como empresa cidadã".

GARIBALDI:

"A Cooperativa Vinícola Garibaldi protagoniza uma história de 92 anos de atuação, credibilidade e compromisso com a valorização das pessoas. Esse ideal está intrínseco no propósito cooperativista que deu origem ao negócio e, principalmente, segue norteando diariamente todas as práticas da Cooperativa Vinícola Garibaldi, inclusive na sua relação com os mais de 450 associados, pequenos produtores de agricultura familiar, e dos mais de 200 colaboradores diretos.

Alinhada com esses valores, a Cooperativa Vinícola Garibaldi repudia qualquer prática que afronte o respeito ao ser humano ou comprometa sua integridade. Isso está explicitado em seu Código de Cultura, que contempla, ainda, um canal de ética (para denúncias), disponível em vários meios de comunicação da Cooperativa e amplamente divulgado entre as partes interessadas. Encontrado também no site – www.vinicolagaribaldi.com.br

Com surpresa e indignação, a vinícola recebeu as denúncias de práticas análogas à escravidão exercidas por uma empresa terceirizada, contratada para suprir a demanda pontual e específica do descarregamento de caminhões no período da safra da uva. Prontamente, a Cooperativa Vinícola Garibaldi encerrou o contrato de prestação de serviço e colocou-se integralmente à disposição das autoridades competentes para colaborar de todas as formas com as investigações necessárias. Assim pretende seguir até a completa elucidação dos fatos, confiando no exercício da justiça e no respeito à responsabilidade social.

Da mesma forma, presta solidariedade aos vitimados pelo ocorrido e a seus familiares, reiterando que de forma alguma compactua com as práticas denunciadas e jamais aceitará tais conduções em suas relações de trabalho.

Importante salientar que, nesses menos de 30 dias de contrato prestando serviço na Cooperativa, o tratamento foi igualitário aos funcionários diretos, atendendo a todas as normas de convívio valorizadas pela Garibaldi, dentre as quais os horários, treinamento, segurança, refeições, etc., além do atendimento a todas as questões legais pertinentes.

Com a transparência que sempre conduziu suas relações, a Cooperativa Vinícola Garibaldi permanece à disposição da sociedade e das autoridades envolvidas no caso."

NOTA DO EMPRESÁRIO:

"Diante dos fatos noticiados em relação a operação de combate ao trabalho análogo à escravidão ocorrida na última quinta-feira, em Bento Gonçalves, a empregadora Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial.

Cabe mencionar que o empresário envolvido nas acusações é um empreendedor de atuação reconhecida e respeitada, não compactuando com qualquer desrespeito aos colaboradores e aos direitos a eles inerentes.

Além disso, é importante ressaltar que qualquer conclusão neste momento é meramente especulativa e temerária, uma vez que os fatos e as responsabilidades devem ser esclarecidas em juízo.

Manifestamos total respeito às instituições e nos colocamos à disposição da justiça para todos os esclarecimentos necessários, colaborando no que for necessário para o restabelecimento da verdade e principalmente do bem estar de todos os envolvidos.

Por fim, informamos que os trabalhadores estão recebendo todo o auxílio necessário para que esta situação não traga maiores prejuízos aos mesmos."Fonte: Deutsche Welle – 02.03.2023

O QUE DIZ A LEI

Conforme o Código Penal, o trabalho análogo à escravidão é caracterizado pela submissão de alguém a trabalho forçado ou a jornadas exaustivas, sujeição a condições degradantes ou restrição do ir e vir em razão da dívida com o empregador, por meio da retenção dos documentos do trabalhador ou cerceamento do uso de meios de transporte, por exemplo. Também é passível de punição quem mantém vigilância ostensiva no local de trabalho.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

IBGE: Informalidade cresce e atinge 37,3 milhões de trabalhadores em 2017

A informalidade cresceu no Brasil. Em 2017, o país tinha 37,3 milhões de pessoas trabalhando sem carteira assinada, o que significa 1,7 milhão a mais do que em 2016, quando 35,6 milhões trabalhadores estavam nesta situação.

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e têm como base informações da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua.

O total de trabalhadores informais em 2017 representa 40,8% de toda a população ocupada (que exerce alguma atividade remunerada) no país, de acordo com o IBGE.
Em novembro do ano passado, entrou em vigor a reforma trabalhista, a mais profunda mudança já realizada na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) desde que ela foi criada, em 1943. O governo Temer defendeu que a nova legislação criaria empregos e reduziria a informalidade.

Os dados do IBGE apontam que a informalidade vinha caindo aos poucos desde 2012, quando começou a ser feita a pesquisa, mas aumentou no ano passado.
Veja abaixo o total de trabalhadores sem carteira a cada ano:
•2012: 37,2 milhões
•2013: 36,8 milhões
•2014: 36,1 milhões
•2015: 36,1 milhões
•2016: 35,6 milhões
•2017: 37,3 milhões
O IBGE não detalhou as causas do aumento na informalidade, apenas relacionou os números à crise econômica que o país atravessou nos últimos três anos.

PRETOS OU PARDOS SÃO MAIORIA
Quase metade (46,9%) da população preta ou parda (denominação oficial usada pelo IBGE) está na informalidade. O percentual entre brancos é menor: 33,7%. O levantamento não apresenta resultados para amarelos (pessoa que se declara de origem japonesa, chinesa, coreana etc.), indígenas ou sem especificação.
O nível de informalidade é equivalente entre homens e mulheres: 40,8% deles não têm registro, enquanto 40,7% delas estão na mesma situação.
Em algumas atividades, porém, o nível de informalidade ultrapassa 50%. É o caso da agropecuária, em que 66,8% dos homens e 75,5% das mulheres não têm registro, e dos serviços domésticos, no qual 57,3% dos homens e 71,2% das mulheres exercem a função sem carteira assinada.

INFORMAL RECEBE MENOS DA METADE
A renda do trabalhador sem carteira assinada é menos da metade da renda de quem atua com registro em carteira. Em 2017, os informais recebiam, em média, 48,5% dos rendimentos dos formais.
A desigualdade se manteve na comparação por sexos. Uma mulher informal recebeu, em média, 73% de um homem na mesma condição. Na análise por cor ou raça, uma pessoa preta ou parda na informalidade recebeu 60% de um branco que estava na mesma situação. Fonte: UOL, em São Paulo-05/12/2018 10h00

Comentário:
Segundo IBGE nos três primeiros meses do ano, o país tinha 32,913 milhões de pessoas com carteira assinada.  
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que a participação de aposentados e pensionistas na população total cresceu 72,1% em 23 anos. De acordo com dados da Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1992 a 2015, a fatia de inativos passou de 8,2% para 14,2%.
O estudo mostra que em 1992 havia um beneficiário para cada 12 brasileiros. Já em 2015, essa proporção passou para um aposentado ou pensionista para cada sete brasileiros.
Pelo jeito a Previdência já está entrando na zona gravitacional do buraco negro.
Segundo Ministério  do Trabalho em 2018 foram criados mais 500 mil vagas.

domingo, 5 de agosto de 2018

Brasil tem 65 milhões fora do mercado de trabalho

Taxa de desemprego caiu no segundo trimestre, mas houve aumento do trabalho informal e do número de pessoas que não trabalham nem procuram emprego, aponta IBGE. País ainda tem 13 milhões de desempregados.
O número de pessoas desempregadas no Brasil recuou no segundo trimestre de 2018, mas a boa notícia é ofuscada por outra: muitas pessoas desistiram de procurar emprego e saíram do cálculo do total, segundo dados divulgados pelo IBGE.
Segundo o IBGE, havia 13 milhões de pessoas sem ocupação (que procura trabalho, mas não acha) no período de abril a junho. De janeiro a março, eram 13,7 milhões. A diferença é de 723 mil. Assim, a taxa de desemprego caiu de 13,1% para 12,4%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.

TOTAL DE PESSOAS QUE NÃO TRABALHAM
Ao mesmo tempo, o total de pessoas que não trabalham nem procuram trabalho chegou a 65,6 milhões, o maior desde 2012, quando o IBGE iniciou a atual série. Em três meses, 774 mil pessoas se uniram a esse grupo, que inclui idosos, estudantes, pessoas sem disponibilidade para trabalhar ou que simplesmente desistiram.

INFORMALIDADE
Outro problema apontado pelo IBGE é a informalidade. De cada dez brasileiros, quatro têm trabalhos informais ou próximos da informalidade, o que inclui as pessoas sem carteira assinada e os autônomos sem registro como pessoa jurídica. A informalidade atinge 37 milhões de brasileiros, segundo o IBGE.

POPULAÇÃO QUE TEM TRABALHO
A população que tem trabalho aumentou em 657 mil pessoas e chegou a 91,2 milhões. Essa alta, porém, foi puxada pelos trabalhadores sem carteira assinada e por aqueles que trabalham por conta própria.
O número de empregados com carteira de trabalho no setor privado caiu levemente e ficou em 32,8 milhões. O de pessoas ocupadas, mas sem carteira de trabalho, subiu em 276 mil e chegou a 11 milhões. Já o total de pessoas que trabalham por conta própria aumentou em 555 mil e chegou a 23,1 milhões.
O rendimento médio do trabalhador brasileiro ficou em R$ 2.198 no segundo trimestre deste ano, relativamente estável.
Empresas de consultoria estimam que a taxa de desemprego deverá fechar o ano acima de 12% por causa da recuperação lenta da economia. Fonte: Deutsche Welle-31.07.2018

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Um milhão de vagas de gerente foram eliminadas na última década


Com a meta de enxugar custos em tempos de crise e modernizar suas estruturas, as empresas brasileiras eliminaram mais de 1 milhão de vagas de gerência e supervisão ao longo dos últimos dez anos. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que esse processo se acelerou entre 2015 e 2017, período em que o país viveu a maior recessão desde os anos 1980.

Apenas nesses três anos, ficou em 538 mil o saldo negativo entre contratações e demissões de gerentes e supervisores em regime de carteira assinada.

 O ranking das ocupações em 2017 ajuda a ilustrar o movimento. Entre os dez campeões de postos eliminados, cinco estão na chamada "chefia intermediária":
■supervisor e gerente administrativo,
■gerente de loja e supermercado,
■gerente comercial e gerente de vendas.

"A maior parte das empresas colocou as lideranças no limite nos últimos anos", afirma Ricardo Basaglia, diretor-executivo da consultoria Michael Page. "Com a crise, o mercado consumidor diminuiu de tamanho, e as empresas se adequaram a esse novo cenário", avalia.

HORIZONTALIZAÇÃO
Em parte, isso pode ser explicado por um processo que vem desde os anos 1990 e que foi batizado de "horizontalização". Se há duas décadas era comum que grandes empresas tivessem até 20 níveis diferentes de hierarquia, o uso da tecnologia e a busca por custos menores reduziram esse número a um quarto.

No caso das multinacionais, as dificuldades econômicas enfrentadas nos últimos anos em locais como Estados Unidos e Europa também levaram à eliminação de cargos, medidas que automaticamente foram adotadas por suas filiais no Brasil.

O aumento da terceirização de serviços também contribuiu, na avaliação de Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese. "Além disso, desde os anos 1990 as empresas fazem uma redução sistemática dos chamados cargos intermediários de gestão, já que a informatização facilita a fiscalização e a gestão. Em época de turbulência econômica, isso se acelera", resume.

O elevado número de fusões e aquisições também pesa porque os gestores sobreviventes passam a ser responsáveis por mais tarefas e um número maior de comandados. "O mercado vem passando por uma grande concentração. Quando uma empresa compra a outra, passa ter dois gerentes ou supervisores de venda, por exemplo. E não vai precisar de ambos", ilustra Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP). Fonte: Folha de São Paulo - 4.fev.2018



Comentário:O trabalhador está se tornando apenas um applet,  que executa funções especificas (lembra muito o filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos). A internet não necessita de empregado estável e isso reflete nas empresas tradicionais,  que elimina mais postos de trabalhos e investe em tecnologia. Hoje temos os veículos ou aviões drones militares remotamente controlado  e amanhã teremos os drones civis, ocupando postos de trabalho.