Mostrando postagens com marcador politica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador politica. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis

 “São pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador.

9 de julho de 2019

 Especialistas e historiadores como Yuval Noah Harari há muito vêm prevendo que as máquinas tornariam os trabalhadores redundantes. Esse momento já pode estar aqui. Mas o que isso traz de ruim?

Em  artigo  publicado no  The Guardian,  intitulado O Significado  da Vida  em um Mundo sem  Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de pessoas que deve surgir até 2050: a  dos  inúteis.  “São  pessoas  que  não  serão  apenas  desempregadas,  mas  que  não  serão  empregáveis”, diz o historiador.

“A questão mais importante na economia do século 21 pode muito bem ser: o que devemos  fazer  com  todas  as  pessoas  supérfluas,  uma  vez  que  temos  algoritmos  não-conscientes altamente inteligentes que podem fazer quase tudo melhor que os humanos?”

“A maioria das crianças que atualmente aprendem na escola provavelmente será irrelevante quando chegar aos 40 anos.”

De acordo com Harari, esse grupo poderá acabar sendo alimentado por um sistema de renda  básica  universal.  A  grande  questão  então  será  como  manter  esses  indivíduos  satisfeitos  e  ocupados. “As pessoas devem se envolver em atividades com algum propósito. Caso contrário,  irão enlouquecer. Afinal, o que a classe inútil irá fazer o dia todo?”.

O professor sugere que os games de realidade virtual poderão ser uma das soluções e faz um  paralelo com costumes antigos, que, segundo ele, teve propósito semelhante:

“Na verdade, essa é uma solução muito antiga. Por centenas de anos, bilhões de humanos  encontraram significados em jogos de realidade virtual. No passado, chamávamos esses jogos  de ‘religiões’”

 Abaixo leia o artigo

O  significado  da  vida  em  um  mundo  sem  trabalho

Por: Yuval Noah Harari

A maioria dos empregos que existem hoje pode desaparecer dentro de décadas. À medida que a  inteligência  artificial  supera os  seres humanos em tarefas  cada  vez mais,  ela  substituirá humanos  em  mais  e  mais  trabalhos.  Muitas  novas  profissões  provavelmente  aparecerão:  designers do mundo virtual, por exemplo.

Mas essas profissões provavelmente exigirão mais criatividade e flexibilidade, e não está claro se os motoristas de táxi ou agentes de seguros desempregados de 40 anos poderão se reinventar como designers do mundo virtual (tente imaginar um mundo virtual criado por um agente de seguros!?).

E mesmo que o ex-agente de  seguros de  alguma  forma faça a transição  para  um designer de mundo  virtual,  o  ritmo do  progresso é tal que, dentro de mais uma década, ele pode ter que se reinventar novamente.

O  problema  crucial  não  é  criar  novos  empregos.  O  problema  crucial  é  a  criação  de  novos  empregos  que  os  humanos  apresentam  melhor  desempenho  do  que  os  algoritmos.

Consequentemente,  até  2050,  uma  nova  classe  de  pessoas  poderá  surgir    a  classe  desocupada. Pessoas que não estão apenas desempregadas, mas desempregáveis. A mesma  tecnologia que torna os seres humanos inúteis também pode tornar viável alimentar e apoiar  as massas desempregadas através de algum esquema de renda básica universal.

O problema  real será, então, manter as massas ocupadas e o conteúdo. As pessoas devem se envolver em  atividades propositadas,  ou ficam loucas.  Então, o que a classe desocupada  irá fazer o dia todo?

Uma resposta pode ser jogos de computador. Pessoas economicamente redundantes podem gastar quantidades crescentes de tempo dentro dos mundos da realidade virtual 3D, o que  lhes  proporcionaria  muito  mais  emoção  e  engajamento  emocional  do  que  o  “mundo  real”  externo. Isso, de fato, é uma solução muito antiga. Por milhares de anos, bilhões de pessoas  encontraram significado em  jogar jogos de realidade virtual. No passado, chamamos essas  “religiões” de jogos de realidade virtual.

O que é uma religião, se não um grande jogo de realidade virtual desempenhado por milhões de pessoas juntas? Religiões como o Islã e o Cristianismo inventam leis imaginárias, como “não comem carne de porco”, “repita as mesmas preces um número determinado de vezes por dia”, “não faça sexo com alguém do seu próprio gênero” e assim por diante. Essas leis existem apenas na imaginação humana. Nenhuma lei natural exige a repetição de fórmulas  mágicas,  e  nenhuma  lei  natural  proíbe  a  homossexualidade  ou  a  ingestão  de  porco.

Muçulmanos e cristãos atravessam a vida tentando ganhar pontos em seu jogo de realidade virtual favorito. Se você reza todos os dias, você obtém pontos. Se você esqueceu de orar, você perde pontos. Se, no final da sua vida, você ganhar pontos suficientes, depois de morrer,  você vai ao próximo nível do jogo (também conhecido como o paraíso).

Como as religiões nos mostram, a realidade virtual não precisa ser encerrada dentro de uma  caixa isolada. Em vez disso, ele pode se sobrepor à realidade física. No passado, isso foi feito  com  a  imaginação  humana  e  com  livros  sagrados,  e  no  século  21  pode  ser  feito  com  smartphones.

Algum  tempo  atrás,  fui  com  o  meu  sobrinho  de  seis  anos,  Matan,  para  caçar  Pokémon.

Enquanto caminhávamos pela rua, Matan continuava a olhar para o seu telefone inteligente, o que lhe permitia detectar Pokémon à nossa volta. Eu não vi nenhum Pokémon, porque não carregava um smartphone. Então vimos outras duas crianças na rua que estavam caçando o  mesmo  Pokémon,  e  quase  começamos  a  lutar  com  eles. 

Parecia-me  como  a  situação  era semelhante  ao  conflito  entre  judeus  e  muçulmanos  sobre  a  cidade  sagrada  de  Jerusalém.

Quando você olha a realidade objetiva de Jerusalém, tudo que você vê são pedras e edifícios.

Não há santidade em qualquer lugar. Mas quando você olha através de smartbooks (como a Bíblia e o Alcorão), você vê lugares sagrados e anjos em todos os lugares.

A  ideia  de  encontrar  um  significado  na  vida  ao  jogar  jogos  de  realidade  virtual  é, evidentemente, comum não apenas às religiões, mas também às ideologias seculares e estilos de vida. O consumo também é um jogo de realidade virtual. Você ganha pontos adquirindo carros novos, comprando marcas caras e tendo férias no exterior, e se você tiver mais pontos do que todos os outros, dizendo a si próprio que ganhou o jogo.

Você pode contrariar dizendo que as pessoas realmente gostam de seus carros e férias. Isso certamente é verdade. Mas os religiosos realmente gostam de orar e realizar cerimônias, e meu sobrinho realmente gosta de caçar Pokémon. No final, a ação real sempre ocorre dentro  do cérebro humano.

Não importa se os neurônios são estimulados observando pixels em uma tela de computador, olhando para fora das janelas de um resort do Caribe ou vendo o céu nos  olhos da mente? Em todos os casos, o significado que atribuímos ao que vemos é gerado pelas  nossas próprias mentes.

Não  é  realmente “lá  fora”. Para o melhor de nosso  conhecimento científico, a vida humana não tem significado. O significado da vida é sempre uma história de ficção criada por nós humanos.

Em  seu  ensaio  inovador,  Deep  Play:  Notas  sobre  a  Briga  de  Galos  em  Bali  (1973),  o  antropólogo Clifford Geertz descreve como na ilha de Bali, as pessoas passaram muito tempo e dinheiro apostando em brigas de galos. As apostas e as lutas envolveram rituais elaborados, e os  resultados  tiveram um impacto   substancial  na  posição social, econômica e política de  jogadores e espectadores.

As brigas de galos eram tão importantes para os balineses que, quando o governo indonésio  declarou a prática ilegal, as pessoas ignoraram a lei e se arriscavam a prisão e multas pesadas.

Para os balineses, as brigas eram “jogo profundo” – um jogo confeccionado que é investido com tanto significado que se torna realidade.

Um antropólogo balines poderia, sem dúvida, ter  escrito ensaios semelhantes sobre futebol na Argentina, Brasil ou no judaísmo em Israel.

De  fato,  uma  seção  particularmente  interessante  da  sociedade  israelense  fornece  um  laboratório exclusivo de como viver uma vida satisfeita em um mundo pós trabalho.

Em Israel,  um percentual significativo de homens judeus ultra ortodoxos nunca trabalhou. Eles passam toda a vida estudando escrituras sagradas e realizando rituais de religião.

Eles e suas famílias não morrem de fome, em parte porque as esposas muitas vezes trabalham, e em parte porque  o governo lhes fornece generosos subsídios. Embora geralmente vivam na pobreza, o apoio  do governo significa que eles nunca faltam para as necessidades básicas da vida.

Isso é uma renda básica universal em ação. Embora sejam pobres e nunca trabalhem, em pesquisa após pesquisa, esses homens judeus ultra ortodoxos relatam níveis mais elevados  de  satisfação  com  a  vida  do  que  qualquer  outra  parte  da  sociedade  israelense. 

Nos levantamentos globais sobre a satisfação da vida, Israel está quase sempre no topo, graças em parte ao contributo destes pensadores profundos e desempregados.

Você não precisa ir a Israel para ver o mundo do pós trabalho. Se você tem em casa um filho adolescente que gosta de jogos de computador, você pode realizar sua própria experiência.

Fornecer-lhe  um  subsídio  mínimo  de  Coca-cola  e  pizza  e,  em  seguida,  remover  todas  as  demandas  de  trabalho  e  toda  a  supervisão  dos  pais. 

O  resultado  provável  é  que  ele permanecerá em seu quarto por dias, colado na tela. Ele não vai fazer qualquer lição de casa ou  tarefas  domésticas,  vai  ignorar  a  escola,  ignorar  as  refeições  e  até  mesmo  ignorar  os chuveiros e dormir. No entanto, é improvável que ele sofra de tédio ou uma sensação de sem  propósito. Pelo menos não no curto prazo.

Portanto, as realidades virtuais provavelmente serão fundamentais para fornecer significado à  classe desocupada do mundo pós-trabalho. Talvez essas  realidades  virtuais  sejam geradas  dentro dos computadores. Talvez sejam gerados fora dos computadores, sob a forma de novas  religiões e ideologias. Talvez seja uma combinação dos dois. As possibilidades são infinitas, e  ninguém sabe com certeza que tipos de peças profundas nos envolverão em 2050.

Em  qualquer caso,  o  fim do trabalho  não  significará necessariamente o  fim  do  significado, porque o significado é gerado pela imaginação em vez de pelo trabalho. O trabalho é essencial  apenas para o significado de acordo com algumas ideologias e estilos de vida.

Os escravos  ingleses do século XVIII, os judeus ultra ortodoxos atuais e as crianças em todas as culturas, encontraram muito interesse e significado na vida, mesmo sem trabalhar. As pessoas em 2050 provavelmente poderão jogar jogos mais profundos e construir mundos virtuais mais  complexos do que em qualquer momento anterior da história.

E quanto à verdade? E a realidade? Realmente queremos viver em um mundo no qual bilhões  de  pessoas  estão  imersas  em  fantasias,  buscando  objetivos  criativos  e  obedecendo  leis imaginárias? Bem, goste ou não, esse é o mundo em que vivemos há milhares de anos.

Yuval Noah Harari é professor na Universidade Hebraica de Jerusalém e é autor de ‘Sapiens:  Uma Breve História da  Humanidade’ e ‘Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã’

domingo, 2 de abril de 2023

Veja quem pode ter cela especial após fim do benefício para ensino superior

 Mesmo após o STF derrubar o direito à prisão especial para quem tem curso superior, na última sexta (31), algumas categorias ainda têm acesso ao benefício, segundo o código de processo penal:

·        Ministros de Estado

·        Senadores, deputados federais e estaduais

·        Oficiais das Forças Armadas e militares estaduais

·        Padres, pastores, rabinos e outros sacerdotes

·        Ministros de tribunais de contas

·        Delegados de polícia e guardas civis

·        Magistrados, desde ministros do STF até juízes de tribunais locais

·        Pessoas que já exerceram a função de jurados

·        Pessoas inscritas no Livro de Mérito, honraria criada em 1939

·        Advogados, que têm direito a sala do Estado Maior segundo lei de 1994

O QUE ACONTECEU

O benefício de cela especial aos graduados no ensino superior, independentemente da categoria profissional, valia enquanto a sentença ainda não fosse definitiva.

O privilégio foi extinto pelo Supremo por unanimidade, em julgamento virtual na sexta-feira, atendendo a um pedido feito pela PGR (Procuradoria-geral da República) em 2015.

A partir de agora, pessoas com grau superior que estejam em prisões preventivas deverão ser encaminhadas a celas comuns.

O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, afirmou em seu voto que é "inaceitável" a ideia de que o curso superior garanta tratamento especial por parte do Estado. Fonte: UOL, em São Paulo- 01/04/2023

sábado, 4 de março de 2023

Serviço alemão leva aos pobres comida que iria para o lixo

Mesmo na rica Alemanha, cada vez mais gente depende da comida distribuída por bancos alimentares. Além de ajudar os mais necessitados, essas entidades beneficentes evitam o desperdício.

A inspiração para o banco de alimentos na Alemanha veio dos Estados Unidos. Um membro de um grupo de mulheres de Berlim leu um artigo sobre voluntários em Nova York que distribuíam mantimentos descartados para moradores de rua. "E então pensamos: 'OK, podemos fazer isso também'", disse Sabine Werth à DW. "Queríamos dar um lugar à mesa aos que não podem pagar."

Juntamente com outros membros de uma iniciativa de mulheres de Berlim, ela fundou o primeiro Tafel, como os bancos de alimentos são chamados na Alemanha, sendo o nome uma das palavras alemãs para "mesa".

Isso foi há 30 anos, em 22 de fevereiro de 1993. O banco de alimentos original continua sendo o maior do país e desde então se tornou uma associação sem fins lucrativos. E a ideia se espalhou rapidamente: hoje existem 936 bancos de alimentos Tafel em toda a Alemanha.

Dependendo da quantidade de público que atingem, seus organizadores vão a supermercados, varejistas locais de alimentos e padarias várias vezes por semana, ou mesmo diariamente, para reunir restos de alimentos ainda comestíveis, evitando desperdício e apoiando pessoas atingidas pela pobreza.

Às vezes, grandes redes de supermercados também entregam seus produtos excedentes aos bancos de alimentos à noite, uma ou duas vezes por semana.

NÃO SOMENTE SEM-TETOS

Para poder usufruir dos bancos de alimentos, as pessoas precisam comprovar sua necessidade, por exemplo, com um documento da previdência social, antes de poderem retirar coisas como frutas, frios e pão.

"Seguimos o princípio clássico de Robin Hood. Tiramos de onde há muito e damos para onde é necessário. Mas fazemos isso legalmente", disse Werth, com um sorriso.

O banco de alimentos atende a uma variedade muito maior de pessoas do que apenas sem-tetos. Ele é um alívio bem-vindo a muitos pais e mães solteiros, aposentados com poucos recursos e refugiados. Para essas pessoas, é um alívio economizar em comida e poder, assim, pagar outras coisas necessárias, como material escolar ou roupas.

POBREZA NA ALEMANHA

A organização que coordena os bancos de alimentos na Alemanha estima que 2 milhões de pessoas os visitaram no ano passado – um aumento acentuado, cerca de 50%, em comparação com o ano anterior. Apesar de a Alemanha ser um dos países mais ricos do mundo, 13,8 milhões de pessoas foram afetadas ou ameaçadas pela pobreza em 2022.

Em regra, a pobreza na Alemanha se refere à pobreza relativa e não absoluta. As pessoas não enfrentam fome imediata ou passam frio. Mas, mesmo assim, a pobreza na Alemanha ainda significa falta de participação na sociedade, crianças que ficam dias sem almoço, sem viagens nas férias e têm um nível mais baixo de educação.

Os bancos de alimentos começaram como forma de economizar em alimentos e aliviar  dificuldades, mas agora se tornaram um medidor de pobreza − ou, como disse à DW o presidente da organização nacional, Jochen Brühl, "um sismógrafo para situações e desenvolvimentos sociais." Segundo ele, quando o primeiro Tafel foi inaugurado, em 1993, a pobreza ainda não era um tema amplamente discutido na sociedade alemã. Ele afirma que o entendimento geral na época era o de que a pobreza não existia no país: quem queria trabalhar, trabalhava.

"Felizmente, esse sentimento mudou drasticamente nos últimos 30 anos", disse Sabine Werth. "Não há partido político, nenhum grupo parlamentar, ninguém na cena política que diga que não há pobreza na Alemanha."

Brühl diz que isso se deve em parte à existência de bancos de alimentos em quase todas as cidades, tornando a pobreza muito tangível.

"COMIDA É POLÍTICA"

Uma visita a um dos muitos bancos de alimentos na Alemanha dá uma rápida ideia disso. Em Eitorf, um vilarejo perto de Bonn, no oeste da Alemanha, Paul Hüsson faz um giro pelo banco de alimentos que administra com 56 voluntários. Com um toque de evidente orgulho, conduz ao pátio onde os produtos são distribuídos às segundas e terças-feiras.

Ele abre um pequeno depósito onde se empilham sacos de massas, pacotes de farinha e latas de vegetais. Não demora muito e Hüsson se torna político. Ele sustenta que a ajuda social é muito baixa e que o bilhete único mensal de transporte público de 9 euros (cerca de R$ 50), um projeto piloto em toda a Alemanha de junho a agosto de 2022, foi uma bênção para quem tem pouco dinheiro.

Os bancos de alimentos frequentemente intervêm em debates sociopolíticos – e isso é intencional. "Se estamos genuinamente envolvidos com essas questões, isso automaticamente nos torna políticos", disse Brühl. "Não no sentido de ser filiado a algum partido em particular. Mas temos influência no nível sociopolítico porque erguemos um espelho para a sociedade e mostramos o que obviamente não está funcionando em alguns lugares." Ou, como Sabine Werth colocou sucintamente na porta do Tafel em Berlim: "'Comida é política".

Hüsson explicou que ele próprio tem muito a aprender sobre a complexidade da pobreza. Atualmente, metade dos clientes de seu banco de alimentos são crianças. "Isso corta fundo", disse ele, apontando para o coração.

LONGE DOS BRAÇOS DO ESTADO

Desde que foram criados, os bancos de alimentos são alvos de críticas, com alguns dizendo que eles facilitam demais as coisas para o Estado e as pessoas necessitadas. O que fica claro nas conversas com voluntários e líderes do banco de alimentos, no entanto, é que os usuários expressamente não querem fazer parte do sistema de bem-estar social do governo.

Eles enfatizam que é errado os serviços de assistência social enviarem pessoas para bancos de alimentos quando elas dizem que seus rendimentos não são suficientes. "Estamos caindo cada vez mais em uma situação em que alguns estão nos cobrando nosso sistema de bem-estar. Mas não queremos isso e nos opomos veementemente a isso", disse Brühl. Em Berlim, Sabine Werth diz que o banco de alimentos não aceita nenhum apoio financeiro do Estado por esse motivo, a fim de manter sua independência.

QUAL O FUTURO DOS BANCOS DE ALIMENTOS?

Os últimos três anos foram extremamente desafiadores para os bancos de alimentos na Alemanha. A inflação, a guerra na Ucrânia e a pandemia de covid-19 causaram uma tensão considerável, com um aumento de 50% nos beneficiários do serviço. "Muitas das instituições estão no limite", observa Brühl. "Mesmo assim, elas continuam o trabalho."

Desde sua criação, há 30 anos, os bancos de alimentos refletem sobre seu desenvolvimento – daquele primeiro local em Berlim para agora centenas espalhadas por toda a Alemanha, assim como seu papel no ativismo sociopolítico.

Sabine Werth prefere não fazer previsões para as próximas três décadas. "Nunca pensei nessas dimensões", disse ela. "Trinta anos atrás, eu nunca pensei que estaríamos onde estamos agora. O trabalho do banco de alimentos está cheio de novas surpresas a cada dia."

Jochen Brühl acredita que o futuro dos bancos de alimentos está garantido. "Acho que eles vão se reinventando conforme a necessidade", diz, porque eles sempre reagem ao que está acontecendo na sociedade, e não o contrário.

Paul Hüsson foca em questões práticas: Ele está tentando encontrar novas dependências, já que as atuais estão lentamente se tornando muito pequenas. Isso mostra que os bancos de alimentos poderão ainda ser necessários daqui a 30 anos, mesmo na rica Alemanha.Fonte: Deutsche Welle - 28 de fevereiro de 2023

Os novos pobres na Alemanha


sábado, 14 de janeiro de 2023

Brasil registra inflação de 5,79% em 2022

Inflação ultrapassa meta definida pelo governo para o ano passado. Segundo IBGE, índice foi puxado para cima principalmente pelo aumento dos preços de alimentos e bebidas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, acumulou 5,79% em 2022, fechando o ano acima da meta definida pelo governo, informou nesta terça-feira (10/01) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora tenha ultrapassado a meta de 3,5% com teto de 5%, a inflação ficou bem abaixo dos 10,06% registrados em 2021. A trégua foi influenciada pelos cortes de impostos que reduziram os preços dos combustíveis.

Segundo o IBGE, a inflação foi puxada para cima principalmente pelo aumento dos preços de alimentos e bebidas, que registrou uma variação de 11,64% – o que representa um impacto de 2,41 pontos percentuais no acumulado do ano. A cebola e o leite longa vida tiveram o maior impacto nesse grupo, seguidos por batata-inglesa, frutas e pão francês.

SAÚDE E VESTUÁRIO TAMBÉM PUXARAM INFLAÇÃO

Depois dos alimentos, o grupo de saúde e cuidados pessoais, com 11,43% de variação, ficaram em segundo lugar entre os nove grupos pesquisados. O maior aumento foi registrado em itens de higiene pessoal, com destaque também para planos de saúde e produtos farmacêuticos.

O grupo vestuário ficou em terceiro lugar, com um impacto de 0,78 ponto percentual. A inflação desse grupo foi puxada pela alta nos preços de roupas masculinas e femininas, que ficaram acima dos 20% ao ano.

Já o grupo habitação ficou próximo da estabilidade, e os grupos transporte e comunicação registram deflação. Fonte: Deutsche Welle – 09.01.2023

domingo, 21 de agosto de 2022

EUA têm mais de 9 milhões de desempregados apesar de alta em salários e vagas de sobra

Faz 35 graus em uma tarde de julho em Washington D.C. e a fila da sorveteria só aumenta, a ponto de sair pela porta do estabelecimento. No caixa, um funcionário anota o pedido e recebe o pagamento. Em seguida, ele mesmo prepara as casquinhas e as entrega aos consumidores, para correr de volta ao caixa e atender o próximo cliente. Sozinho atrás do balcão, o atendente se desdobra. Mas a fila, composta por famílias sem máscara e ansiosas para aproveitar o primeiro verão pós-pandemia, não cede.

Comprar uma casquinha de sorvete no horário de pico de uma tarde ensolarada no fim de semana, na capital dos Estados Unidos, pode levar entre 20 minutos e meia hora. Há quem desista. No país do capitalismo de manual, a sorveteria perde clientes porque não consegue vender seu produto em tempo hábil.

Há vagas ali abertas há semanas – para contratar atendentes de balcão e gerente de turno – com salários entre US$12,50 e US$19 por hora. Mas não há candidatos para ocupá-las.

Essa história é um exemplo de um curioso fenômeno experimentado pelos Estados Unidos. Em franca recuperação econômica, depois de um tombo histórico só comparável ao da Grande Depressão de 1929, o país vive uma contradição: há muitas vagas de trabalho abertas, e também muitos desempregados, mas eles não se completam.

De acordo com o último dado do governo americano, a taxa de desemprego em junho de 2021 era de 5,9% – ou algo em torno de 9,5 milhões de pessoas. Os empregadores, no entanto, não conseguem contratar. A pesquisa da Federação Nacional de Negócios Independentes mostrou que, no mês passado, 46% dos pequenos empresários do país disseram não ter conseguido funcionários para suas vagas no período, mais do que o dobro da média histórica medida nos últimos 48 anos.

"Na movimentada temporada de verão, muitas empresas não conseguiram contratar trabalhadores suficientes para administrar com eficiência seus negócios, o que restringiu as vendas e a produção", afirmou o economista-chefe da federação, Bill Dunkelberg.

Salários aumentando e bônus de US$ 1 mil só por assinar contrato

"Em junho, vimos um percentual recorde de proprietários aumentando a remuneração para ajudar a atrair os funcionários necessários", completou Dunkelberg. A pesquisa mostra que 39% dos empresários subiram suas ofertas salariais no período. É o terceiro mês consecutivo de alta nas estimativas de pagamento aos trabalhadores americanos. No ano, a remuneração por hora de trabalho já acumula reajuste de 3,6%.

E os donos de negócios não têm apelado só a aumento de salário pra atrair mão de obra. Empresas do setor de serviços têm oferecido bônus de até US$ 1mil ao funcionário recém‑contratado, apenas pelo fato de ele ter aceitado se vincular à empresa.

O bartender e gerente de cervejaria Eugene Barnett, de 42 anos, foi um dos profissionais que receberam uma proposta de emprego que lhe garantiria US$ 1 mil apenas pela assinatura do contrato. Barnett afirma que a proposta não o tentou porque a remuneração por hora não era tão significativa.

Antes da pandemia, ele conta que trabalhadores em bares na capital americana costumavam receber cerca de US$ 9 por hora. Agora, para atrair a mão de obra, é preciso oferecer algo em torno de US$ 15 por hora. Para ele, a resistência de parte dos chefes em aumentar os salários explica por que há o descasamento entre vagas e desempregados.

"Os empregadores querem oferecer ao trabalhador o mesmo salário de antes da pandemia, mas a realidade mudou. As pessoas não estão dispostas a se arriscar a contrair covid-19 em transporte público, e pagar por carro de aplicativo para ir ao trabalho é caro. Além disso, as escolas estão fechadas, bancar uma babá pra cuidar do seu filho não sai barato. Então, se fosse para receber o mesmo salário de antes, os trabalhadores acabariam tendo que pagar para trabalhar", afirma Barnett à BBC News Brasil.

'EFEITO PREGUIÇA' DO SEGURO-DESEMPREGO?

Ele rechaça a tese de que os benefícios de seguro-desemprego oferecidos pela administração do democrata Joe Biden à população americana como forma de mitigar os danos econômicos da pandemia tenham criado o "efeito preguiça" na força de trabalho americana.

De março a setembro de 2021, os Estados Unidos aumentaram e facilitaram o acesso à cobertura assistencial para quem perdeu o emprego durante a pandemia de Covid-19. Trabalhadores desempregados que se encaixam nos pré-requisitos do programa recebem 300 dólares por semana, ou US$ 1,2 mil por mês.

Alguns economistas afirmam que isso pode ter colocado um piso alto demais na remuneração para que os pequenos negócios de serviços, como restaurantes e bares, possam competir e retirar os trabalhadores de casa.

"Com o crescimento que estamos vendo na economia, era de se esperar que a geração de empregos mensais no país estivesse na casa do milhão. O número de junho, no entanto, veio apenas em 850 mil americanos recém-empregados. Parece óbvio que o programa de seguro-desemprego está retirando incentivo de certos trabalhadores saírem de casa", afirmou à BBC News Brasil Daniil Manaenkov, economista da Universidade de Michigan.

Os dados disponíveis, no entanto, não provam essa hipótese, ao menos por enquanto. Mais de 20 Estados americanos já cortaram, nas últimas semanas, o programa de seguro-desemprego federal de sua população, na expectativa de que isso aumentasse a busca por ocupação na região.

Os quatro primeiros a tomar essa iniciativa (Alasca, Iowa, Mississipi e Missouri) o fizeram há quase um mês. Ali, no entanto, as buscas por vagas desde então ficaram 4% abaixo da média nacional, de acordo com o site Indeed, um dos maiores agregadores de oportunidades de emprego no país.

CHOQUE ESTRUTURAL NA ECONOMIA

Ainda assim, Manaenkov acredita que o fim do auxílio federal e o retorno das aulas presenciais, programado para setembro, devem ajustar parcialmente a demanda e a oferta da força de trabalho. Manaenkov afirma, no entanto, que a normalização entre vagas e trabalhadores pode se alongar, já que a pandemia provocou o que ele chama de "choque estrutural na economia".

"De repente, setores inteiros - como hotelaria ou limpeza de prédios comerciais - foram drasticamente reduzidos pela Covid-19. Esses trabalhadores dispensados tiveram que ser reabsorvidos em outras áreas - delivery de comida, fabricação de máscaras, por exemplo. Voltar à normalidade vai ser um novo choque estrutural", diz Manaenkov.

O problema da economia americana pode soar ao leitor como bom demais para ser verdade, especialmente quando comparado a cenários como o do Brasil – onde a economia ensaia retomada, a despeito da taxa recorde de 14,7% de desempregados registrada pelo IBGE no primeiro trimestre de 2021. E, de acordo com os especialistas, a saída dos americanos da recessão pandêmica - com salários mais altos e vagas de sobra - é uma realidade "única" e "exclusiva" daquele país.

"A maior parte dos demais países do mundo, à exceção talvez da Alemanha, terão problemas fiscais e de desemprego muito mais graves para lidar", afirma Manaenkov. Fonte: G1 Mundo - Por BBC- 18/07/2021

domingo, 12 de junho de 2022

Inflação dispara nos EUA e atinge maior patamar em 40 anos

Preços ao consumidor aumentam 8,6% em maio, puxados pelos custos de energia e alimentação. Índice aprofunda crise no governo Biden e gera pressão por novos aumentos nas taxas de juros.

A taxa de inflação nos Estados Unidos aumentou em 8,6% no mês de maio, atingindo o maior patamar em quatro décadas, segundo os dados divulgados na sexta-feira (10/06) pelo Departamento do Trabalho dos EUA.

Os novos números aprofundam a crise no governo do presidente americano, Joe Biden, e frustram as esperanças de que o aumento dos preços ao consumidor pudessem ter atingido o ápice, enquanto a população sofre para cobrir os gastos essenciais, como alimentação, moradia e combustíveis.

SETOR DE ENERGIA

A alta da inflação em maio foi impulsionada pelos preços do setor de energia – petróleo bruto, gás e eletricidade – que aumentaram 34,6% nos últimos 12 meses, puxados pela alta de 106,7% do petróleo, sendo este o maior aumento desde o início dos registros dos dados de inflação.

Na comparação com abril, os preços da energia aumentaram 3,9%, após uma queda de 2,7% no mês anterior. Os alimentos registaram alta de 10,1% em um ano, com alta de 11,9% nos os produtos relacionados às compras em supermercado – a maior alta desde 1979 – e de 7,4% nos restaurantes.

A gasolina aumentou 4% em maio, sendo que em um ano a alta foi de quase 50%. As passagens aéreas subiram quase 38% no ano passado, o maior aumento desde 1980. Excluídos os preços dos alimentos e da energia, o aumento da inflação em maio foi de 6%.

NOVOS AUMENTOS NA TAXA DE JUROS

A alta da inflação, que resultou nos números mais altos registrados desde 1981, devem aumentar a pressão para que o Fed – Federal Reserve, instituição que atua como uma espécie de Banco Central americano – continue a aumentar agressivamente a taxa de juros.

Isso, porém, implicaria em custos mais altos nos empréstimos para os consumidores e empresas, exacerbando o risco de uma recessão.

Os dados revelados n sexta-feira reforçam os temores de que a inflação americana esteja se espalhando além dos setores de energia e alimentação, impulsionados pelos gargalos na cadeia global de abastecimento e pela invasão russa à Ucrânia.

Pesquisas de opinião revelam que os americanos veem a alta da inflação como o maior problema no país nos dias atuais. A maioria reprova o gerenciamento econômico do governo Biden. Fonte: Deutsche Welle – 10.06.2022

sábado, 14 de maio de 2022

Inflação quase dobra no Brasil em um ano

A inflação acumulada em 12 meses no Brasil chegou a 12,13% em abril, informou na quarta‑feira (11/05) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao mesmo mês do ano passado, a taxa praticamente dobrou: em abril de 2021, a inflação anual era de 6,76%.

O índice em abril ficou acima dos 12 meses imediatamente anteriores (11,3%) e é o maior desde outubro de 2003. A taxa acumulada no ano chegou a 4,29%, quase um ponto percentual acima da meta que o Banco Central estabeleceu para todo o ano (3,5%) e próxima do teto da margem (5,25%).

Segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, foi de 1,06% em abril, mais de três vezes maior que a do mesmo período de 2021 (0,31%) e a maior taxa para o mês nos últimos 26 anos, desde abril de 1996. No entanto, a taxa ficou abaixo da registrada em março (1,62%).

A alta foi impulsionada, sobretudo, pelo aumento dos preços dos combustíveis, que pressionam a taxa desde o final de 2021 devido à política de paridade de preços da Petrobras.

Com o resultado mensal de abril, o Brasil acumula oito meses seguidos com a inflação acima dos dois dígitos, o que reforça as apostas de nova elevação da taxa básica de juros, atualmente em 12,75% ao ano – isso poderá ter impacto no crescimento da maior economia da América Latina, já que juros altos encarecem o crédito.

PRINCIPAIS ALTAS: Segundo o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em abril. Os alimentos, com inflação de 2,06%, tiveram o maior impacto no índice no mês, seguido por transportes (1,91%). Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 80% da inflação em abril.

"Alimentos e transportes, que já haviam subido no mês anterior, continuaram em alta em abril. Em alimentos e bebidas, a alta foi puxada pela elevação dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (2,59%)", explica o analista do IBGE André Almeida.

No caso dos transportes, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis, que continuaram subindo (3,20%), assim como no mês anterior, com destaque para gasolina (2,48%).

"A gasolina é o subitem com maior peso na inflação (6,71%), mas os outros combustíveis também subiram. O etanol subiu 8,44%, o óleo diesel, 4,74% e ainda houve uma alta de 0,24% no gás veicular", detalha Almeida.

Também registraram alta de preços os grupos saúde e cuidados pessoais (1,77%), artigos de residência (1,53%), vestuário (1,26%), despesas pessoais (0,48%), comunicação (0,08%) e educação (0,06%).

O único grupo com deflação foi habitação (-1,14%), devido à queda de 6,27% no preço da energia elétrica.

ELEVAÇÃO DA TAXA DE JUROS: Economistas preveem que o Brasil terminará o ano com inflação de 7,89%, inferior à de 2021 (10,06%), mas que, mesmo assim, dobrará a meta estabelecida pelo Banco Central pelo segundo ano consecutivo.

O aumento da inflação obrigou o Banco Central a elevar a taxa básica de juros na semana passada para 12,75% ao ano, seu maior nível em cinco anos, na tentativa de conter a escalada de preços. Fonte: Deutsche Welle – 12.05.2022  

domingo, 10 de abril de 2022

O mundo caminha para uma desglobalização?

 

Primeiro, a crise da pandemia expôs rupturas na economia. Agora, a guerra na Ucrânia afeta os mercados de commodities. Tais interrupções estão estimulando uma mudança na concepção das cadeias de abastecimento.

Certamente, você já ouviu falar em globalização. Mas e sobre desglobalização?

Interrupções nas cadeias de abastecimento, aumento de preços, escassez – todas essas realidades diárias poderiam ser conectadas a um processo conhecido como desglobalização.

Especialistas afirmam, inclusive, que a guerra na Ucrânia, junto com a pandemia, marca um ponto de virada rumo a uma era desglobalizada.

Mas que forma ou que rumo tomaria esse novo mundo?

 UMA BREVE INTRODUÇÃO À GLOBALIZAÇÃO: Segundo pesquisadores e estudiosos do tema, há, basicamente, três tipos de globalização: econômica, social e política.

A globalização econômica é a integração da economia mundial em termos de comércio, um processo que tem seus defensores e críticos.

De acordo com quem defende esse conceito, a globalização aumenta o padrão de vida das pessoas, retirando-as da pobreza.

Por outro lado, os louros dessa globalização não costumam ser divididos de forma igualitária.

"Tanto em termos internacionais quanto nas sociedades industrializadas, a desigualdade aumentou", afirma Andreas Wirsching, professor de história da Universidade Ludwig Maximilian de Munique. A globalização econômica resultou em "muitos vencedores, mas também muitos perdedores, isso é inegável", complementa.

As desvantagens da globalização também incluem consequências sociais e ecológicas, pondera Cora Jungbluth, economista e especialista sênior da fundação alemã Bertelsmann Stiftung, com sede na cidade de Gütersloh.

Trabalhadores de países de alta renda têm visto empregos migrarem para países onde o custo de produção é menor, enquanto "empresas multinacionais têm terceirizado etapas de produção mais poluentes para países em desenvolvimento e emergentes, contribuindo, assim, para as questões ambientais", diz Jungbluth.

GLOBALIZAÇÃO EM RECUO DESDE A CRISE DE 2008: Assim como a globalização reflete um processo crescente de interdependência econômica, a desglobalização marca justamente o recuo da integração econômica global. E há indícios de que isso está acontecendo há algum tempo.

Medida que é chave na globalização, a participação do comércio no Produto Interno Bruto (PIB) global atingiu seu auge em 2008, antes do início da crise.

"A proporção média das exportações em relação ao PIB em todo o mundo aumentou muito significativamente nos anos 1990 e 2000. Entretanto, desde a crise financeira de 2008 e 2009, essas medidas têm estagnado ou mesmo diminuído", explica Douglas Irwin, professor de Economia na Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos.

Irwin e outros especialistas observam que essa tendência tem ocorrido lado a lado com a ascensão do populismo e de medidas econômicas protecionistas. Há, no entanto, outros fatores importantes que têm freado a globalização.

ENTÃO VEIO A PANDEMIA: Em termos econômicos, a crise do coronavírus tem contribuído para interrupções nas cadeias de abastecimento. Não há como esquecer a consequente escassez, o aumento de preços e também o armazenamento de produtos – aquele momento em que você se deparou com o último rolo de papel higiênico.

Tais interrupções estimularam uma mudança fundamental na concepção dessas cadeias de abastecimento, explica Megan Greene, economista e membro sênior da Harvard Kennedy School, nos Estados Unidos.

"A pandemia mudou uma tendência de produção 'just-in-time' (em que a produção, o transporte e a compra são feitos de maneira regrada e pontual) para a manutenção de estoques", diz Greene. Ela descreve esse novo sistema de contingência como "cadeia de abastecimento global com planos de apoio", de modo que as empresas não são abandonadas quando há rupturas na cadeia global de abastecimento.

Dentro desse modelo com planos de apoio, Jungbluth acrescenta que países e empresas têm considerado reduzir as cadeias de abastecimento: "Talvez 'trazer de volta para casa', com insumos e tecnologias-chave mais próximos de seus locais de produção", algo que resulta em mais flexibilidade do lado de quem oferta. Essencialmente, isso caracteriza um afastamento da globalização, com foco na eficiência e no custo-benefício.

AGORA A GUERRA NA UCRÂNIA: Os impactos da invasão russa à Ucrânia têm sido perceptíveis aos consumidores muito devido às sanções impostas à Rússia, sobretudo nos setores de energia e de produtos agrícolas.

"Há ausência de importação de energia, que é necessária, uma vez que a Europa precisa de energia fóssil da Rússia. E o mundo inteiro precisa de produtos agrícolas da Rússia e da Ucrânia", afirma Thiess Petersen, economista e colega de Jungbluth na Bertelsmann Stiftung.

A Rússia e a Ucrânia são exportadores globais muito significativos de trigo e óleo de girassol, por exemplo.

Irwin corrobora a tese de que a interrupção das exportações devido à guerra e às sanções impostas à Rússia têm levado a aumentos de preços.

"Temos visto os preços das commodities subirem bastante como resultado da guerra, a exemplo de produtos como trigo e petróleo (pelo menos inicialmente)", diz Irwin.

A consequência disso é o aumento de preços para o consumidor final, o que, por sua vez, estimula a inflação.

Por outro lado, as sanções contra a Rússia estão isolando o país – que tem uma economia significativa – do resto do mundo.

Economistas enxergam esse cenário não apenas como a desintegração de mercados interconectados, mas sim o desenrolar de um progresso que a globalização trouxe consigo.

A escassez e os altos preços de alimentos básicos serão observados não apenas em países de alta renda, mas também em nações em desenvolvimento e emergentes. Para países altamente dependentes de importações de farinha e petróleo baratos, isso "pode até levar à fome", acrescenta Jungbluth.

O FIM DA ERA GLOBALIZADA? A crise de 2008, o protecionismo tarifário subsequente, a reestruturação da cadeia de abastecimento devido à pandemia, a desintegração de mercados interconectados por causa da guerra na Ucrânia, conclui Petersen, talvez estejam nos levando "ao início de uma espécie de desglobalização".

Neste contexto, Greene pondera que não há um índice para medir a globalização. E contesta a narrativa atual, promovida a partir do início da pandemia, com relação a fatores como onshoring (recolocação de negócios dentro das próprias fronteiras), nearshoring (recolocação de negócios em países próximos) e regionalização da cadeia de abastecimento. Essa narrativa, segundo Greene, não é sustentada por muitos indicadores de globalização, a exemplo de pesquisas de dados.

"Na mais recente pesquisa realizada pela Câmara de Comércio de Xangai, nenhuma empresa americana afirmou que voltaria para operações onshore, ou seja, sair da China e voltar para os Estados Unidos", aponta Greene.

Por outro lado, a economista destaca que apesar de investimentos de longo prazo terem continuado de maneira acelerada na China, investimentos de curto prazo ficaram mais evidentes a partir da invasão russa na Ucrânia, o que também indica um ponto de virada.

"O auge da globalização ficou para trás. Eu diria que estamos vendo a globalização progredir muito mais lentamente do que antes, mas ainda não estamos no território da desglobalização", afirma Greene.

ADMIRÁVEIS NOVOS BLOCOS: As sanções do Ocidente contra a Rússia e a fuga de capitais da China indicam uma tendência global, segundo Jungbluth: "Nos últimos anos, os países têm tentado reduzir as chamadas 'dependências críticas', o que também pode levar à desglobalização".

Já Irwin traça paralelos com a era da Guerra Fria, quando "certos países que estavam politicamente alinhados também se tornaram mais alinhados economicamente, e não tão integrados com outros".

Jungbluth, Petersen e outros economistas acreditam que o mundo caminha, atualmente, para dois blocos econômicos geopolíticos distintos: um deles seria formado por países democráticos, de economia de mercado (União Européia, Japão, Coréia do Sul, Oceania, Américas do Norte e do Sul), e outro por estados autocráticos (China, Rússia e seus parceiros comerciais mais importantes).

"O que temos visto é um retorno à geopolítica, e essas tendências também levam à desglobalização, por meio da tentativa de diminuir as dependências econômicas de países que têm conceitos distintos", diz Jungbluth.

ESTAMOS, PORTANTO, NO LIMIAR DE UMA NOVA ERA? Conforme o historiador Andreas Wirsching, essa é uma discussão popular. "Você quase pode pensar nesses dois momentos juntos: a pandemia de 2020, e agora essa guerra em 2022. Tem-se a sensação, a impressão, como habitantes aqui e agora, que algo está fundamentalmente mudando. Mas como os vários fatores podem ser encarados juntos, isso só se tornará aparente no futuro".

sábado, 25 de dezembro de 2021

Economia chinesa deve crescer 8% em 2021 e 5,1% em 2022

 A economia chinesa vai crescer 8% em 2021 e 5,1% em 2022, segundo o Banco Mundial (BM), que reduziu as suas previsões para este ano em 0,5 ponto percentual, em comparação com as projeções anteriores.

De acordo com o último relatório publicado pela instituição, a atividade econômica do gigante asiático sofreu "forte recuperação" no primeiro semestre de 2021, mas "arrefeceu rapidamente" no segundo semestre do ano.

 O Produto Interno Bruto (PIB) abrandou no terceiro trimestre, de acordo com dados oficiais, crescendo 4,9% após avanços de 18,3% e 7,9% nos dois primeiros trimestres de 2021.

O Banco Mundial acredita que o arrefecimento se deve a fatores como os surtos recorrentes de covid-19, que "complicaram" a retomada do setor dos serviços, e a crescente regularização por parte das autoridades nos setores imobiliário e financeiro.

"Tudo isso levou a uma pressão descendente sobre o consumo e investimento privados, que foi compensada por exportações mais fortes do que o esperado dada a robusta procura externa". O relatório também cita as falhas de energia como um dos fatores que influenciaram o desempenho econômico em 2021.

O Banco Mundial espera que o PIB da China atinja 8% este ano, menos 0,5 ponto do que nas suas previsões anteriores, e 5,1% em 2022 devido a "um efeito de base menos favorável e a uma menor contribuição para as exportações", ao qual devem ser somados "os esforços de desalavancagem do governo".

A agência indica que o país continuará com a sua política de "casos zero", o que implica a imposição de restrições severas em áreas onde são detectados casos de covid-19 ou a manutenção de fronteiras praticamente fechadas.

"Essa estratégia requer medidas de contenção contínuas, mas esperamos que a procura interna continue a ser retomada gradualmente", afirma o relatório.

A instituição lembra, no entanto, que novas variantes do coronavírus, como a ômicron, poderiam levar a "mais restrições e maiores perturbações da atividade econômica".

"Além disso, a economia chinesa é vulnerável a perturbações da cadeia de abastecimento, que poderiam ser mais persistentes do que o esperado. Isso contribuiria para maiores pressões inflacionárias", acrescenta o relatório. Fonte: Agência Brasil - Publicado em 22/12/2021

sábado, 14 de agosto de 2021

Há 60 anos era erguido o Muro de Berlim

Após a 2ª Guerra, a atual capital alemã fora dividida politicamente, mas a circulação era livre. Até que, em 13 de agosto de 1961, uma construção literalmente cimentou a divisão entre o mundo comunista e o capitalista.

"Portão de Brandemburgo fechado". Com essa manchete, nas primeiras horas de 13 de agosto de 1961 a agência de notícias Associated Press (AP) anunciava um acontecimento decisivo para a história mundial: a construção do Muro de Berlim.

Nesse dia foi bloqueada a marca registrada da metrópole alemã, situada diretamente na junção entre o Leste e o Oeste. Simultaneamente, soldados do Exército Nacional do Povo (NVA) e tropas de operários da comunista República Democrata Alemã (RDA) obstruíam todos os demais caminhos para Berlim Ocidental, de início com arame farpado.

A operação "Salvaguarda das Fronteiras", comandada pelo futuro chefe de Estado alemão‑oriental Erich Honecker, era o último passo para literalmente cimentar a divisão de Berlim. Pois em breve se começaria a erguer um quase intransponível muro de pedra e concreto, de 3,60 metros de altura.

Desse modo, selava-se a última e maior brecha por onde, desde a divisão estatal da Alemanha, em 1949, escapara grande parte dos cerca de 2,6 milhões de refugiados da RDA – na esperança de uma vida melhor, dos pontos de vista material, cultural e político, na República Federal da Alemanha (RFA), no oeste.

SÍMBOLO CONCRETO DA GUERRA FRIA

O êxodo em massa empurrara o Estado alemão-oriental cada vez mais à beira da ruína econômica. Faltavam urgentemente sobretudo operários especializados e médicos. Para evitar a continuação da sangria demográfica e, desse modo, colocar uma tranca diante da RDA, os dirigentes em Berlim Oriental só viam uma saída: o Muro.

Na propaganda oficial, contudo, o fechamento da fronteira é justificado de modo bem diferente: "A manutenção da paz exige exige que se dê um fim às atividades dos revanchistas alemães-ocidentais." Essa retórica agressiva era típica de uma época em que a superpotência comunista União Soviética (URSS) e seu rival capitalista Estados Unidos travavam um duelo implacável pelo modelo social supostamente melhor.

Na disputa, a RDA estava do lado e sob a influência da URSS, enquanto a RFA integrava a facção dos EUA. O perigo de uma terceira guerra mundial, desta vez atômica, era muito real. Ambos os lados expandiam constantemente seus arsenais militares. Fala-se de um "equilíbrio do terror". Essa era, que só terminaria com a queda do Muro de Berlim, em 1989, entraria para a história como Guerra Fria.

OS QUATRO SETORES DO PÓS-GUERRA

Em todas essas décadas, a Berlim dividida foi foco da disputa dos sistemas. Símbolo político da dominação dos nacional-socialistas, de 1933 a 1945, ela fora seccionada em quatro setores pelas potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial.

Na parte leste, os soviéticos é que mandavam; no oeste, os americanos, britânicos e franceses. Todas as tentativas dos comunistas de colocarem a metrópole inteiramente sob seu controle fracassaram diante da resistência dos Aliados ocidentais.

O então presidente americano John F. Kennedy definiu Berlim Ocidental democrática como uma "ilha de liberdade no mar comunista". No entanto, foi forçado a aceitar a construção do Muro, da mesma forma que os diretamente atingidos: os mais de 3 milhões de residentes de ambos os lados da "muralha anti-imperialista", como o regime da RDA denominava a proteção de fronteira de cerca de 155 quilômetros de extensão.

Nos 28 anos de sua existência, mais de 140 cidadãos morreram por causa do Muro de Berlim. Hoje, para recordar esses destinos há o memorial central da rua Bernauer Strasse, onde ainda se manteve um trecho de mais de 200 metros do Muro. Curiosos de todo mundo vão até lá para ter uma ideia do que significou a divisão da atual capital alemã. Fonte: Deutsche Welle – 13.08.2021

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Reino Unido se despede de vez da UE

 O início de 2021 marca a ruptura definitiva do Reino Unido com a União Europeia (UE), mais de quatro anos depois de os britânicos terem votado, em 23 de junho de 2016, a favor do processo de desligamento do bloco, batizado de Brexit.

O Reino Unido já havia deixado o chamado "clube dos 27", em referência aos países-membros da União Europeia, em 31 de janeiro de 2020, mas foi beneficiando com um período transitório para amortecer o choque.

No último dia do ano vencia o prazo para a saída britânica do mercado comum e da união aduaneira, finalizando o processo de transição depois de meio século de integração europeia.

A partir de agora, o Reino Unido, como afirma o governo, se torna um país com controle das águas, que tem liberdade para negociar acordos comerciais com nações de fora do bloco, que está sujeito unicamente às próprias leis e sob jurisdição de seus tribunais.

"É um momento inacreditável. Temos a nossa liberdade nas nossas mãos e cabe a nós aproveitá‑la ao máximo", declarou o premiê Boris Johnson, no seu discurso de Ano Novo.

A saída do Reino Unido da União Europeia dominou a política desde o polêmico referendo realizado em 2016, quando 52% dos britânicos decidiram pela independência. Fonte: Deutsche Welle – 01.01.2021

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Japão relembra 75 anos da bomba atômica em Hiroshima

O Japão lembrou nesta quinta-feira (06) os 75 anos da detonação da primeira bomba nuclear lançada durante a Segunda Guerra Mundial e que matou cerca de 140 mil pessoas na cidade de Hiroshima.
Por conta da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), as tradicionais cerimônias pelo dia 6 de agosto de 1945 foram reduzidas ou canceladas. A principal delas, no Parque Memorial da Paz, no centro da cidade portuária, contou com um número pequeno de autoridades e não teve a presença dos moradores pela primeira vez - o evento foi transmitido por streaming.

Durante a celebração no Parque, participaram sobreviventes do ataque, políticos, autoridades e representantes de 80 nações. Às 8h15 (hora local), momento em que a bomba atômica lançada pelo caça norte-americano Enola Gay atingiu o solo, um minuto de silêncio foi respeitado.
Já a tradicional cerimônia das lanternas flutuantes, para honrar a memória das vítimas, foi cancelada para evitar aglomerações.

A semana de cerimônias no Japão ainda terá mais uma etapa, no dia 9 de agosto, quando o país relembra o lançamento da segunda bomba nuclear, dessa vez, na cidade de Nagasaki, que matou outras 74 mil pessoas.

Quem também se manifestou pela data foi o papa Francisco através de uma mensagem enviada para o governador de Hiroshima, Hidehiko Yuzaki.

"Para que a paz floresça, todos devem baixar as armas, sobretudo, as mais potentes e destrutivas, como as nucleares, que podem paralisar e destruir cidades e países inteiros", escreveu o líder católico segundo o portal "Vatican News".
O Pontífice ainda repetiu a mensagem que leu durante sua visita ao Parque Memorial, em 24 de novembro de 2019, ressaltando que "o uso da energia atômica para fins bélicos é imoral, assim como é imoral possuir armas nucleares". "Que as vozes proféticas dos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki continuem a servir de alerta para nós e para as gerações futuras", concluiu. Fonte: Ansa Brasil - 08:46, 06 Ago 2020  
Comentário:
Em 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba nuclear da história. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.

O Enola Gay
O ataque a Hiroshima estava planejado para acontecer em 1 de agosto de 1945, mas teve que ser adiado devido a um tufão. Cinco dias depois, o Enola Gay partiu com 13 tripulantes a bordo. A tripulação só ficou sabendo durante o vôo que lançariam uma bomba atômica.

As vítimas
Durante meses após os ataques, dezenas de milhares de pessoas morreram por causa dos efeitos das explosões. Somente em Hiroshima, até o fim de 1945, 60 mil pessoas morreram por conta da radiação, de queimaduras e outros ferimentos graves. 

A reconstrução

Devastada, Hiroshima foi reconstruída do zero. Apenas uma ilha, no rio Ota, foi mantida e se tornou o Parque Memorial da Paz. Hoje, há uma série de memoriais: o Museu Memorial da Paz de Hiroshima; a Estátua das Crianças da Bomba Atômica; as Ruínas da Indústria e Comércio; e a Chama da Paz, que vai permanecer acesa até a última bomba atômica do planeta ser destruída. Fonte: Deutsche Welle