domingo, 20 de agosto de 2017

Prove o rabo de galo antes que ele se transforme em artigo hipster

Esqueça a Piña Colada, o Cosmopolitan, o Dry Martini, o Mojito e todas as outras bebidas estrangeiras que estão em bares Brasil afora. Sem a mesma grife dos coquetéis gringos ou o reconhecimento internacional da boa e velha caipirinha, os drinks tipicamente brasileiros são saborosos, fáceis de fazer e, mais importante, não afetarão seu bolso. De quebra, ao prová-los você ainda pode descobrir um pouquinho mais sobre a identidade brasileira – ou ao menos a identidade dos botecos brasileiros. Mas corra antes que o rabo de galo vire artigo hipster e se transforme no Negroni da vez.

Seu Zé, 73 anos, por exemplo. Atrás do balcão do Bar Estrela do Fernão Dias, em Pinheiros, São Paulo, trabalha como bartender e garçom desde 1963. Antigo no ramo, ele explica que coquetéis como "o rabo de galo, a maria-mole e o bombeirinho são as bebidas mais típicas dos brasileiros" desde que ele está no ramo etílico. Com o passar do tempo, porém, Zé notou algumas diferenças: "Antigamente, eram quase sempre homens e mais velhos os que pediam essas bebidas, que são mais fortes. Hoje em dia, tem muitos jovens que vêm aqui e pedem esses drinks. Depois disso, vão direto para a balada."

Ali pertinho do Seu Zé, também em Pinheiros, trabalha o Ubiratan, 29 anos, gerente do Luar de Pinheiros. Ele, que está na região há 10 anos, explica que, "de uns anos para cá, a procura por bebidas mais 'gringas' aumentou, e esses drinks, que também são nossa cultura, tiveram uma queda nas vendas. É meio chato porque é algo nosso (do povo brasileiro), né?". "Além de tudo, as [bebidas] brasileiras são bem mais baratas, como o kariri com mel", lamenta. Enquanto drinks de origem estrangeira tem um preço que varia entre 20 e 30 reais, a maria-mole, o rabo de galo e o bombeirinho têm o mesmo preço nos bares de Zé e Ubiratan: seis reais. "Geralmente, essas bebidas têm preços bem parecidos. Em outros estabelecimentos mais caros, vocês vai achar no máximo por 15 reais. Não passa disso", conta o gerente.

Nas cercanias do Luar de Pinheiros e do Bar Estrela, está o Cu do Padre. Colado atrás da igreja do Largo da Batata  – daí o nome indecoroso do estabelecimento – é frequentado por uma clientela mais abastada (há quem diga que, por isso, seja também mais propensa ao hipsterismo). De qualquer jeito, o Inaldo Gomes dos Santos, "Fera", 50 anos de vida e 28 de barman, fala sobre suas impressões acerca das misturas alcoólicas. "Isso (ser barman) é uma arte. Não é só fazer a bebida. Envolve educação, gentileza e, principalmente, a criatividade", reflete. Por quase três décadas, o experiente profissional passou por diversos estados, e trabalhou em locais como o Hotel Panamericano, no Rio de Janeiro. Segundo o Fera conta, "a procura por drinks de fora realmente aumentou, mas ainda existe um público fiel a esses coquetéis brasileiros. É legal observar isso."

Seu Zé, Ubiratan e Fera comentam sobre quatro bebidas típicas brasileiras: rabo de galo, maria-mole, bombeirinho e kariri com mel

RABO DE GALO
 - "Esse é bem forte. Lembra o Negroni. Nele, vão a cachaça, primeiro, e o vermute, depois. Alguns usam Cynar no lugar do vermute. No Rio de Janeiro e na Bahia, chamam essa bebida de Traçado. Não vai se confundir se estiver por lá", alerta Seu Zé. Preço médio: cinco a 15 reais.

MARIA-MOLE
 - "Esse também é forte, talvez o mais forte deles. A mulherada pede muito aqui. É a mistura de conhaque e contini, e fica bem gostoso. Dá para colocar gelo, mas o ideal é beber no estilo 'caubói' (sem gelo)", comenta também o Zé. Preço médio: cinco a 15 reais.

BOMBEIRINHO
- "Todo mundo pede o bombeirinho: os jovens, os mais velhos, as mulheres, os rapazes... É forte e bem docinho, por isso que gostam. Basta misturar uma dose de cachaça, uma dose de groselha e colocar gelo. É bem tradicional usar limão espremido, mas é opcional", revela Fera. Preço médio: cinco a 15 reais

KARIRI COM MEL
- "Esse ganhou força nos últimos anos e é bem gostoso, mas é menos pedido ainda. E também é simples de fazer: basta usar cachaça  – geralmente usam o Kariri, por isso o nome -, um pouco de limão espremido e mel. Esse aí é mais pedido pelos mais jovens", explica Ubiratan. Preço médio: oito a 15 reais. Fonte: El País - São Paulo 11 AGO 2017 

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